Autor: Cristina Pires / Miguel Bettencourt Mota
Por que aceitou o desafio de se candidatar?
Este é um desafio que
aceito há vários anos. Acho que respondo a uma necessidade do povo da
Ribeira Grande. O povo precisa de fazer chegar a sua voz ao presidente
da Câmara e esse porta-voz sou eu. Percebo as necessidades daquela gente
e como eles não conseguem fazê-las chegar ao topo, sou eu que as
transporto.
É candidato há vários anos, assume-se no papel de porta-voz do povo... Como explica que nunca tenha sido eleito?
Eu
tenho uma história muito curiosa para partilhar convosco. Sabem que
tive pessoas nas minhas listas que pediram a familiares para votarem
nelas, mas que nem mesmo assim foi possível? As pessoas mais antigas
ainda mantêm a mentalidade de votar no PS ou no PPD e não compreenderam
que há uma renovação para melhor no PCP.
Em que medida a sua
experiência política, aliada ao seu percurso profissional - o senhor é
empresário -, pode ser uma mais-valia se for eleito no dia 1 de outubro?
Se
eu for eleito no primeiro dia de outubro acho que a minha experiência e
a minha idade - já um pouco além do que é habitual nos atuais
presidentes de Câmara - vai ser uma mais-valia. Precisamos de ‘limpar a
casa’ para receber o turismo e, neste momento, não é isso que está a
acontecer. Estamos a ter muitos problemas com o turismo e atualmente e
vê-se que há falta de informação e de qualidade...
... E o que propõe como alternativa? Que problemas deteta neste setor?
Por
exemplo, há oito anos foi-me apresentado pelo então presidente da
autarquia, Sr. Ricardo Silva, um projeto para as Caldeira Velha em que
as obras se fariam com materiais da natureza e que impedia a entrada de
viaturas civis no local (a não ser os Bombeiros). Eu propus que se
fizesse um parque automóvel ao lado da Caldeira Velha, mas até hoje nada
se concretizou e o resultado está à vista: há um grande engarrafamento
no local. Não foram pelas minhas ideias, quando havia espaço para se
fazer um parque automóvel e ter um vigilante para salvaguardar os bens
dos visitantes...
...Acha que isso deve ser feito no futuro?
Quando
se fizeram obras na Caldeira Velha isto já deveria ter sido feito.
Quando lhe digo que a casa ‘não está limpa’ para receber o turismo é a
este tipo de situação que me refiro. Outra coisa que está muito mal é o
turismo - à deriva - a tomar banho na Lagoa do Fogo quando é proibido...
...Ou seja, o que defende, no fundo, é uma maior fiscalização nesses sítios?
Fiscalização e informação. Era necessária muito mais informação para o turismo que não há neste momento.
Para além destes pontos que identificou no setor, há outros que considera ser importante melhorarem?
A
Ribeira Grande é um concelho com grande potencial turístico. Tem muito
para mostrar ao turismo e a Câmara tem que se organizar para que tudo
possa dar certo.
O setor do turismo está em franco crescimento em São
Miguel. A Ribeira Grande tem, do seu ponto de vista, beneficiado desse
número de turistas que é presença massiva na ilha?
Sim, está a ver-se
pelas estatísticas que o turismo se expande, muito graças à
liberalização do espaço aéreo e ao facto das companhias aéreas
apresentarem passagens a preços acessíveis.
A falta de emprego é uma
realidade no concelho da Ribeira Grande. Não sendo esta uma competência
da autarquia, o que pode ainda assim fazer e que incentivos pode criar
para atrair investimentos para o concelho que sejam sinónimo de emprego e
de riqueza?
Nesse sentido, o concelho da Ribeira Grande tem muitas
obras para fazer e espero que haja vontade para isso. No mandato do Sr.
Alexandre Gaudêncio não se tem visto obra nenhuma feita, a não ser agora
umas pequenas obras que surgem em cima das eleições. Destes anos todos
em que eu ando a defender a Ribeira Grande, graças a Deus o Governo
Regional já abriu o concurso para as águas das Lombadas, o que vai
permitir criar emprego no concelho. A Câmara Municipal também poderia
dar mais trabalho e, por vezes, não está a colaborar com os pequenos e
médios comerciantes. Eu sei que eles sentem que a autarquia não
contribui para o desenvolvimento comercial do concelho.
Quando fala que há falta de obra no município, a que se refere?
Estou-me
a referir à nova ponte, ao passeio atlântico e a obras de remodelação e
de saneamento básico nalgumas freguesias. Refiro-me a obras que o Sr.
Alexandre Gaudêncio deveria ter realizado desde o início do mandato e
não fez, a pequenas moradias em risco de ruir e que o Sr. Gaudêncio
ainda não visitou... São estas obras que deveriam ter sido concluídas,
mas que ainda não começaram.
Houve também falta de informação por
parte da Câmara Municipal quanto às obras de saneamento básico no Pico
da Pedra que também não começaram e que o tribunal da Ribeira Grande
cancelou. Agora, esse problema já está resolvido, a obra está em curso e
vamos lá ver se chega ao fim...
...Essa questão do saneamento básico é algo que o preocupa em particular?
Isto
preocupa-me bastante e as ETAR [Estações de Tratamento de Águas
Residuais] também me preocupam. Eu já propus ao Sr. Alexandre Gaudêncio
que colocasse a ETAR no concelho e ele o que me disse era que ia fazer
umas pequenas ETAR para resolver o problema dos esgotos a céu aberto e
isto ainda não foi feito.
Vejo também necessidade do Sr. Gaudêncio
estender a mão a Rabo de Peixe, a freguesia que lhe colocou no cargo em
que está. Parece-me que se esqueceu da freguesia...Há muitas pessoas que
não podem parar junto à zona da COFACO devido ao mau cheiro no local e
eu não sei se a ETAR está a trabalhar a 100 por cento...Como há mau
cheiro no local, é capaz de não estar a trabalhar bem.
Que soluções propõe para estas questões?
Proponho uma reunião com a administração da COFACO para resolver o problema dos maus cheiros.
Como é que avalia a recolha do tratamento de lixo que é feita no concelho?
Eu
julgo que seria uma mais-valia que a Câmara fizesse a recolha. O que
verifico é que a recolha não é a mais correta e que as pessoas estão a
pagar muito dinheiro por ela e não têm o melhor serviço.
Acha que a autarquia podia investir em mais campanhas de sensibilização e fiscalização?
Sim.
Devia haver mais informação ( que é algo que falta) e fiscalização
sobre a empresa que está a fazer essa recolha porque, ora o camião está
avariado, ora não há condutor. Além disso, por vezes, o lixo fica de um
dia para o outro... Isso são situações que não são admissíveis.
Acha, então, que essa responsabilidade da recolha e tratamento do lixo devia ser da própria autarquia?
A
entidade responsável é sempre a Câmara, mesmo a recolha sendo feito por
uma empresa privada. É a Câmara que tem de supervisionar os problemas
que dela decorrem...
...Ou seja, não acha mal que este serviço esteja
concessionado a uma empresa privada, mas defende que o serviço tenha
outra qualidade?
É preciso que tenha outra qualidade. Quando uma
coisa corre mal, o utente não se vai queixar à empresa, vai-se queixar à
Câmara, que, por sua vez, tem obrigação de voltar a pôr o comboio em
cima dos carris.
O João Gomes falou aqui na falta de emprego no concelho, há outras questões sociais que o preocupam na Ribeira Grande?
Sim,
há outras questões sociais que me preocupam. Em tempo, preocupava-me
muito a situação da Polícia no concelho. Se olharmos, vemos que as
esquadras não estão apropriadas às exigência da função. Recordo-me que
no passado chegaram a andar com a ‘casa às costas’ de um lado para o
outro. Também me lembro da luta entre as juntas de freguesia do Pico da
Pedra e de Rabo de Peixe para saber qual a que iria ter uma
esquadra. Mas pronto, qualquer uma delas - mesmo a esquadra da Ribeira
Grande - não tem sede própria. Sabemos que a culpa disso é da
Administração Interna, mas cabe ao presidente da Câmara reivindicar uma
sede própria e dar uma ‘mãozinha’. Porque não me esqueço do carro que o
Sr. Ricardo Silva ofereceu à Polícia, mesmo sem ter casa... Já o atual
presidente tinha obrigação de ver o sítio para fazer a esquadra...
...Tem alguma sugestão?
De
momento, não. Até porque eles estão acomodados por uns tempos. O que me
preocupa mais agora é a falta de efetivos. Vejo que há falta de
policiamento, vejo que se há uma emergência em Rabo de Peixe a Polícia
tem de sair e fechar a esquadra por falta de meios. Defendo, por isso,
que deve haver um reforço de efetivos na PSP (...)
A Câmara da
Ribeira Grande reduziu no último mandato a dívida da autarquia em 5,1
milhões de euros, sendo que o montante da dívida atual ainda é da ordem
dos 10,7 milhões de euros. Esta é uma questão que o preocupa?
A
dívida nunca me preocupou e recordo-me de o Sr. Ricardo Silva dizer que
seria para pagar a longo prazo. Sei que para o Sr. Gaudêncio o valor
desta dívida foi preocupante porque teve quase de ser paga ‘logo e já’. O
seu papel foi importante no reduzir da dívida, mas esqueceu-se de
coisas muito importantes no concelho que eram para se fazer e não se
fizeram...
...Como por exemplo?
Na Lomba de Santa Bárbara, há
famílias que estão a ver as casas a ruir devido à linha de água que
passa por baixo delas...Esse problema foi sinalizado quatro meses depois
do atual presidente tomar posse e até agora se foi resolvido.
João Gomes, está confiante na sua eleição, no dia 1 de outubro?
Com
a equipa que eu tenho estou muito confiante e penso que o povo
ribeira-grandense vai olhar para mim com outros olhos, uma vez que já
viu o resultado do meu trabalho, Vamos lá ver.