Autor: Lusa/AO Online
"Uma vez perguntámos a um miúdo o que é que ele queria de prenda de aniversário. Ele disse que o sonho dele era ter um bolo de chocolate. O miúdo ia fazer 13 anos e fez-se um bolo enorme", contou a portuguesa à agência Lusa em Berlim.
Inês de Almeida referiu que o empenho da sociedade civil na capital alemã "tem sido fundamental para acolher os refugiados e lidar com este problema", lamentando alguns casos de radicalismo e escalada de violência contra os migrantes na Alemanha.
"A rejeição vem do medo que as pessoas têm do outro, da pessoa que é diferente. Todo este movimento enorme que existe na Alemanha trata-se de superar os medos do outro", referiu a portuguesa que vive em Berlim há mais de dez anos, concluindo que "devemos é ajudar".
Vânia Batalha também considera fundamental o trabalho dos voluntários no acolhimento dos refugiados, referindo que "temos de mostrar-lhes que podem ser integrados, que podem viver nesta sociedade. Nós queremos que gostem da nossa cultura e do nosso país".
A voluntária portuguesa acrescentou que evoluiu "gigantescamente por estar a viver a realidade dos refugiados", garantindo que leva para casa "uma vontade muito grande de tentar minimizar ao máximo o trauma que estas pessoas trazem".
A crise dos refugidos tem levado vários portugueses a fazer voluntariado nos campos de receção aos migrantes mas alguns membros da comunidade portuguesa na Alemanha receiam que a entrada de milhares de requerentes de asilo resulte em falta de emprego e insegurança.
José Loureiro, conselheiro das Comunidades Portuguesas na Alemanha, referiu que a crise dos refugiados é um assunto "muito delicado" para a comunidade portuguesa em Estugarda, acrescentado que "as pessoas pensam que o seu posto de trabalho estará em causa e receiam pela segurança civil".
O conselheiro disse que alguns portugueses "transmitem a ideia de que os refugiados são pessoas complicadas, conflituosas e indigentes", mencionando que "sentem que os refugiados têm uma posição privilegiada em relação a eles, que já trabalham aqui há largos anos".
Alfredo Stoffel, conselheiro das Comunidades Portuguesas pelo círculo norte da Alemanha, disse que "o receio da população portuguesa não é diferente do receio da população alemã", complementando que a desunião das principais forças políticas alemãs tem fomentado o crescimento de "partidos xenófobos como o AfD [Alternativa para a Alemanha] e o NPD [Partido Nacional Democrático da Alemanha], que com uma conversa muito fácil atingem o medo das pessoas".
Stoffel assinalou que o discurso nacionalista contra os refugiados na Alemanha assemelha-se às críticas que se verificaram relativamente à vaga de jovens profissionais provenientes do sul da Europa "que vieram destabilizaram algumas regiões, porque eram mão-de-obra mais barata e as pessoas tinham medo que viessem tirar trabalho".
De acordo com dados do Serviço Federal para as Migrações e Refugiado, mais de um milhão de requerentes de asilo registaram-se na Alemanha em 2015, e cerca de 150 mil nos meses de janeiro e fevereiro de 2016. A maioria dos migrantes é proveniente da Síria, Afeganistão, Iraque, Albânia e Kosovo.