Açoriano Oriental
PCP publica textos inéditos de Cunhal
Preso durante 11 anos, Álvaro Cunhal anotava requerimentos e respostas da direção prisional aos seus protestos, em que reclamava cuidados de saúde, direito a visitas ou o fim do isolamento a que esteve sujeito durante oito anos.

Autor: Lusa/AO On line

As notas de Cunhal, em três “Cadernos da Prisão” que abrangem o período da sua prisão na Penitenciária de Lisboa e na cadeia do Forte de Peniche, são lançadas hoje pelas edições Avante!, numa edição em CD-ROM, no âmbito de diversas iniciativas do PCP para assinalar os cinco anos da morte do líder histórico comunista (a 13 de junho de 2005).

Os registos, entre 25 de novembro de 1949 e 11 de fevereiro de 1957, escritos à mão por Álvaro Cunhal em cadernos, incluem “peças do seu processo, requerimentos, protestos, exposições, recibos de aceitação de telegramas, despachos da direção prisional, ordens de serviço da prisão, comunicações dos chefes dos guardas, livros pedidos, reclamações sobre livros que lhe eram apreendidos, cópias de cartas e do diretor da Penitenciária, cartas ao ministro da Justiça, ao advogado [e pai] Avelino Cunhal, à família, ao advogado Armando Bacelar”, lê-se no prefácio da obra, assinado por José Casanova, diretor do jornal Avante!.

Em várias cartas - cujos originais surgem no CD - o “preso na cela 53 da ala C” da Penitenciária de Lisboa reclama contra o isolamento que lhe é imposto durante cerca de oito anos e alerta para a necessidade de tratamento médico adequado.

Em março de 1953, ao fim de mais de quatro anos de isolamento - que Cunhal diz ultrapassar largamente os seis meses deste regime a que deveria ter sido sujeito – argumenta que este é um “processo de rigor desumano e inútil” e pede para ser colocado “em comum com outros presos políticos”, alertando que está de “mau estado de saúde” por permanecer “numa cela fria e húmida”.

Os “Cadernos” incluem gráficos da temperatura de Álvaro Cunhal, que alega ter uma febre persistente ao longo do tempo, e registos das alterações de peso.

Justificando que “só no trabalho intelectual” encontra “certo alívio” para o regime em que se encontra, Cunhal pede aos serviços prisionais que lhe facultem livros, jornais, papel, uma máquina de escrever e que lhe permitam manter a luz acesa até mais tarde, solicitando também materiais para o seu trabalho artístico.

O antigo secretário geral do PCP protesta contra impedimentos de ser visitado, por exemplo, pela criada da família, e pelo pai, num dia de Natal, mas as suas cartas também incluem reclamações relativas aos outros presos.

Durante o período em que está internado na enfermaria, apercebe-se que alguns presos políticos são tratados por números, apelando ao diretor da Penitenciária para que garanta que estes são chamados pelos seus nomes.

Nos registos encontram-se também cartas Armando Bacelar, datadas de 1955 e 1956, em que Cunhal transmite ao advogado “elementos para a contestação e defesa” num processo por desobediência a decorrer no Porto e no qual foi impedido de participar.

“Pode na verdade dizer-se que ‘confesso’ muito espontaneamente e com prazer o ‘delito’ de que sou acusado: ter-me negado na PIDE a responder fosse a que perguntas fosse, direta ou indiretamente relacionadas com a minha atividade política”, lê-se na missiva ao advogado.

Além da edição destes “Cadernos da Prisão”, o PCP assinala hoje os 60 anos sobre o julgamento de Cunhal em tribunal plenário, com uma sessão pública no Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa.

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