Parlamento concorda em melhorar condições de acolhimento familiar de crianças e jovens
29 de jun. de 2023, 17:53
— Lusa
O
Bloco de Esquerda agendou um debate no parlamento sobre a proteção de
crianças e jovens à guarda do Estado e apresentou quatro iniciativas –
anunciando que vai pedir a baixa à comissão da especialidade sem votação
-, tendo-se juntado propostas da IL, PCP, PAN e Livre.Citando
os dados mais recentes, Pedro Filipe Soares abriu o debate, em que o
Governo não esteve presente, começando por recordar que mais de 95% das
crianças e jovens nessa situação estão institucionalizadas, um indicador
em que Portugal está “na cauda da Europa” e contrariando recomendações
internacionais sobre o qual o partido apresentou um projeto de lei,
propondo que estas famílias sejam também candidatas à adoção.“O
que é mais importante? O superior interesse da criança ou uma lista que
protege os diretos da família e não da criança? Creio que a resposta de
todos é unívoca. De todos, menos da lei”, afirmou o deputado do BE.Da
esquerda à direita do hemiciclo, todos saudaram o BE por ter trazido o
tema à discussão e manifestaram disponibilidade para manter o debate em
sede de especialidade, onde deverão ser ouvidos especialistas e quem
trabalha no terreno para responder a um problema complexo.Ainda
assim, muitos levantaram dúvidas quando às iniciativas do BE que propõe
também acabar com as restrições legais para que o Estado apoie de igual
forma as famílias que fiquem com crianças pertencendo ao mesmo quadro
familiar.As principais críticas partiram
do PS que, nas primeiras intervenções, não deixou claro se iria
viabilizar as propostas, tendo acabado por manifestar-se, pela voz da
deputada Patrícia Faro, “disponível para o debate na especialidade,
ainda que o Governo esteja a trabalhar nesse sentido”.Mais
tarde, a socialista Marta Temido acrescentou que “as alterações
propostas não ajudam ao resultado pretendido”, argumentando que
confundem tipologias distintas de acolhimento das crianças e jovens de
acolhimento.Pelo PSD, Clara Marques Mendes
sublinhou que o acolhimento familiar deve ser prioridade, em linha com
as iniciativas em discussão, mas alertou que o caminho proposto “é
curto”, uma vez que “falar no superior interesse das crianças é falar
também do acompanhamento às famílias biológicas, da adoção, do
apadrinhamento civil”.Patrícia Gilvaz, da
IL, disse não compreender que a esmagadora maioria das crianças e jovens
estejam institucionalizadas e afirmou que “a resistência que parece
existir [ao acolhimento familiar] abandona as crianças” e não tem em
conta o seu superior interesse.“É
necessário que Portugal acompanhe o que de melhor se faz no mundo”,
disse Rui Paulo Sousa, do Chega, acrescentando que o Governo “não pode
eximir-se da sua responsabilidade”.À
esquerda, o PCP, que apresentou um projeto de resolução para medidas de
reforço das comissões de proteção de crianças e jovens, destacou a
necessidade de melhorar a intervenção precoce, com a deputada Alma
Rivera a sublinhar que, “mesmo tendo-se evoluído muito, a vida
quotidiana de milhares de crianças é bem diferente da letra da lei”.O
PAN e o Livre apresentaram projetos de resolução sobre o tema,
recomendando medidas de promoção do acolhimento familiar, o reforço de
medidas de apoio psicológico para crianças e jovens em acolhimento e a
criação de um grupo de trabalho para uma política de “zero
institucionalização” até 2030.