Papa vai para um lado e turistas vão "para o outro"
4 de ago. de 2023, 16:05
— Lusa
Os
dois alemães confessaram à Lusa, quando passeavam por Alfama, terem
ficado surpreendidos quando lhes disseram que por estes dias está a
decorrer em Lisboa a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o maior evento
da Igreja Católica, presidido pelo Papa Francisco.Claudia
e Christian estão alojados em Alfama, um bairro do centro da cidade e a
pouca distância da Praça do Comércio, um dos cenários das atividades da
JMJ, em que participam centenas de milhares de peregrinos, com a
organização a esperar mais de um milhão de pessoas na Jornada, que
termina no domingo.Os dois alemães
disseram querer caminhar pelas ruas de Lisboa e evitar assistir a
eventos da JMJ. Pelo contrário, o objetivo é mesmo manterem-se à margem
da Jornada.Numa padaria tradicional do
bairro onde também se servem cafés, três moradoras de Alfama disseram à
Lusa que não decidiram manter-se à margem da JMJ, como os dois turistas
alemães, mas é isso que está acontecer no dia a dia de todas elas."O
Papa não passa para estes lados", disse Fátima, 72 anos, nascida em
Alfama, enquanto conversava com as vizinhas na padaria/café que é ponto
de encontro de moradoras na rua todas as manhãs.Da outra mesa, Glória, 59 anos, perguntou mesmo se o Papa ainda está em Lisboa ou vai ficar mais dias.Dona
de um pequeno restaurante tradicional no bairro, Glória disse que
"adorava ver o Papa", mas a JMJ decorre noutros pontos da cidade e o
trabalho não a vai deixar sair dali, pelo que continuará a ver Francisco
na televisão, como sempre viu, estando ele em Portugal ou noutro país.As centenas de milhares de peregrinos que andam por Lisboa nestes dias também não lhe entraram pelo restaurante.No
restaurante de Glória, a atividade segue, assim, a habitual "para um
mês de agosto", quando muitos moradores de Alfama e trabalhadores no
bairro ou nas imediações deixam a cidade por causa as férias e entram
mais turistas."Anteontem fiz só dois
almoços, mas ontem já foram 27", afirmou, para explicar como agosto pode
ser irregular num restaurante como o seu.A funcionária da padaria onde Fátima e Glória tomam o seu café confirmou que a JMJ "não prejudicou nem melhorou" as vendas.Na
mesma rua, moradoras como elas em Alfama vivem, aparentemente, a rotina
de todos os dias, munidas com carrinhos de compras e com paragens na
mercearia e no talho ou à porta dos cafés, para dois ou três comentários
sobre o calor.Os turistas misturam-se e confundem-se com os peregrinos da JMJ, identificados por mochilas, T-shirts ou credenciais do evento. Um
pouco mais abaixo, junto ao Museu do Fado, P., um motorista de 'tuk
tuk' que não quer ver o nome publicado, disse à Lusa que há menos
turistas em Lisboa do que no ano passado, mas não lhe parece que isso
tenha a ver com a JMJ. Atribui mais ao efeito pós-pandemia que houve no
verão de 2022, quando as pessoas tinham "dinheiro poupado" para gastar e
houve uma certa "euforia" em viajar e sair de casa.A
JMJ também não passa pelos 'tuk tuk', que não têm peregrinos entre os
seus clientes nem pedidos de turistas para se aproximarem dos locais
onde decorrem os eventos ou por onde passa o Papa Francisco.Os
cortes de trânsito na cidade por causa da JMJ impedem a venda de alguns
dos percursos que os 'tuk tuk' normalmente oferecem aos turistas, mas
há várias opções à margem da JMJ e sem perturbações por causa do evento,
como é o caso, precisamente, das zonas de Alfama, Graça ou Marvila.Entre
risos, P. contou que tem feito percursos com turistas que foram
surpreendidos por estar a decorrer a JMJ em Lisboa ou que só depois de
chegarem à cidade perceberam porque "os preços estavam tão caros" quando
fizeram as reservas de alojamento para estes dias.Angelique,
o marido e o filho, uma família de Valência, em Espanha, confirmaram
que não sabiam da JMJ em Lisboa quando reservaram o hotel em que estão
alojados, perto do Campo das Cebolas, em frente ao Tejo, a apenas 500
metros da Praça do Comércio.Parece-lhes
uma vantagem encontrarem uma cidade "com tanta alegria nas ruas" por
causa da JMJ, mas os planos que têm são os de visitar a cidade,
afastados da Jornada e do Papa.Segundo
Angélique, nem tiveram de mudar os planos que traziam e, quando falou
com a Lusa, a família preparava-se para ir até Belém e visitar os
Jerónimos, por onde o Papa já passou, mas que já está livre para ser de
novo visitado pelos turistas.