Açoriano Oriental
Obra e percurso de Natália Correia na galeria Monumental em Lisboa
A figura, o percurso e a obra da escritora Natália Correia são o ponto de partida para a peça "Natália", que vai estar em cena de 17 a 25 de fevereiro na galeria Monumental, em Lisboa.
Obra e percurso de Natália Correia na galeria Monumental em Lisboa

Autor: Lusa/Açoriano Oriental

 

Com texto de Ana Paula Costa, que também interpreta, a par de Maria Emília Castanheira, "Natália" fala do "génio invulgar e do verbo incandescente" de Natália Correia, a mulher nascida na Fajã de Baixo, em São Miguel, Açores, em 1923, segundo o Trêsmaisum Teatro.

A peça mostra a mulher "lúcida, à frente do seu tempo, que marcou definitivamente" quem com ela conviveu, adianta a companhia.

As diferentes áreas de expressão de Natália Correia - a poesia, o romance, o teatro, o ensaio com que rasgou diversos caminhos na liberdade e no pensamento contemporâneo - são também mostradas nesta peça, acrescenta o grupo de teatro.

A "mulher polémica, talentosa, genial, mas também frágil e profundamente solitária, de uma solidão dolorosamente vivida sempre em tertúlias e ruídos mundanos" são outras facetas não esquecidas.

"Nesta peça desvendam-se alguns dos momentos de maior força e também da fragilidade que habitaram esta figura ímpar da cultura portuguesa", acrescenta o Trêsmaisum Teatro.

Natália Correia "era um ser tocado pelo sagrado, um desses seres que não cabem no espaço que lhes foi destinado, nem no corpo, nem nas normas", escreveu Fernando Dacosta, jornalista, escritor, em "Natália Correia, dez anos depois".

Este volume, organizado em 2003, uma década após a morte da escritora, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), reunia outros depoimentos de diferentes autores e académicos.

Para Maria da Teresa Horta, Natália "era uma força da natureza, formada no desassombro, na desmesura", enquanto Urbano Tavares Rodrigues identificava na escritora "uma personalidade muito forte, excessiva e contundente".

Entrava "nos 'templos' de chicote em punho, de palavra viva, zurzindo vendilhões, traficantes, hipócritas", lembrou Dacosta.

Poeta (e não "poetisa", pois "a poesia é assexuada", dizia), dramaturga, romancista, deputada, Natália Correia nasceu a 13 de setembro de 1923, nos Açores. Aos 11, após a partida do pai para o Brasil, fixou-se em Lisboa, com a mãe.

Natália Correia estreou-se na literatura, aos 22 anos (1946), com um romance juvenil e, na mesma altura, no jornalismo, no Rádio Clube Português, cerca de três décadas antes de dirigir a revista Vida Mundial (1976).

Durante a ditadura do Estado Novo fez parte do Movimento de Unidade Democrática (1945), apoiou as candidaturas de Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958), aderiu à Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (1969).

A "Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica", de 1966, valeu-lhe três anos de prisão, com pena suspensa, por ofensa aos costumes. Em 1972, regressou ao banco dos réus, pela edição das "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta.

Em "Não percas a rosa", diário escrito de 25 de Abril de 1974 a 20 de Dezembro de 1975, combina testemunho e premonição.

A intervenção política levou-a ao Parlamento, em 1980, com o PSD de Francisco de Sá Carneiro e, em 1985, com o PRD de Ramalho Eanes, sem pôr em causa a independência com que de lá saiu, como sublinhou.

Com José Saramago e Urbano Tavares Rodrigues criou a Frente Nacional para a Defesa da Cultura, em 1992, em oposição ao acordo ortográfico, o derradeiro combate.

Em "A defesa do poeta", escreveu: "Senhores banqueiros, sois a cidade/o vosso enfarte serei".

Natália Correia morreu na madrugada de 16 de março de 1993.

A peça "Natália", sempre com sessões às 21:30, tem dramaturgia e encenação de Ana Paula Eusébio, cenografia, luz e cartaz de José Manuel Castanheira, figurino de José António Tenente e seleção musical de António Alves da Costa e Carlos Medeiros.

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