Autor: Tatiana Ourique / AO Online
Francisco Maduro Dias começa por destacar o que era unânime em todas as ilhas: "Ao contrário do Natal, que é um dia, os açorianos não se referiam ao Domingo de Páscoa. As celebrações eram relativas à "Semana Santa" o que exigia uma maior criatividade gastronómica.
"Os inhames foram-me referidos por várias pessoas com quem conversei sobre este assunto. E pessoas de ilhas diferentes. Foi o que achei mais curioso das respostas que obtive nesta pesquisa", avançou o historiador terceirense,
"Outra questão que achei curiosa é que não se falava do Domingo de Páscoa. Falava-se sempre da Semana Santa. E o mais engraçado é que isso reflecte-se nas memórias e nos testemunhos e na forma como as pessoas mais antigas falam do que se lembram. As conversas começam sempre com referência ao dia da semana: quinta, sexta, sábado de Aleluia e o Domingo".
Outro aspecto que o estudioso referiu foi a presença da alcatra no domingo de Páscoa nas ementas terceirenses: “A alcatra que nós associamos claramente ao Espírito Santo aparece no Domingo da mesma forma que as bandeiras nos impérios”.
Na Semana Santa também não se jogava ao pião: “porque o peão espetava na terra onde tinha sido sepultado Jesus. Também não se cantava alto. A semana Santa era de recolhimento que explodia de alegria no sábado de Aleluia.” O historiador adianta que o sábado é que era “O dia”.
No domingo de Páscoa a carne contrastava com uma quaresma inteira de jejum: a alcatra como já foi referida, “São Jorge não tinha alcatra mas tinha a galinha e o frango e Santa Maria tinha borrego, por ser a ilha que criava mais ovelhas. Mas isso para as famílias mais abastadas.” A sobremesa também já fazia antever o Espírito Santo: arroz doce.
Tanto em Santa Maria como em São Jorge, as famílias mais abastadas comiam peixe escalado nos dias de jejum, um hábito que voltou a aparecer nas últimas décadas.
“A minha mãe fazia empadas de peixe. E não éramos só nós. Muitas famílias em Angra faziam-nas. E porquê? Porque as casas não acendiam lume dos fornos nem na sexta nem no sábado. E as comidas já cozinhadas eram as escolhidas”.
“Finalmente o folar: mais seco ou mais húmido, mais ou menos amanteigado, com ou sem ovos, com bigodes ou sem bigodes. O folar não faltava em nenhuma casa açoriana” e é, ainda hoje, símbolo da Páscoa na região.