Açoriano Oriental
Museu Carlos Machado acolhe espólio e estuda preservação de património de antiga açucareira

Centenas de objetos da extinta açucareira SINAGA, foram acolhidos no Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, e os técnicos estão a estudar a preservação do património industrial difícil de transportar devido à dimensão.

Museu Carlos Machado acolhe espólio e estuda preservação de património de antiga açucareira

Autor: Lusa/AO Online

Numa visita às instalações da empresa, detida em 51% pelo Governo Regional açoriano desde 2010 e que o atual executivo PSD/CDS-PP/PPM decidiu extinguir, João Paulo Constância, diretor do Museu Carlos Machado, esclareceu que este acolhe já “parte do acervo da fábrica”, essencialmente “todo o património móvel que era possível” transportar.

Para além disso, os técnicos estão também a estudar “o que é possível fazer ao património integrado” na unidade industrial, ou seja, ao património que não é móvel, por ser “muito grande” e de “difícil” transporte.

André Bonança, atual administrador da empresa, disse ainda à Lusa ser “completamente falso” que exista um “desmantelamento a ritmo acelerado” da antiga açucareira que concluiu a sua produção em 2017, nomeadamente na unidade instalada em 55 mil metros quadrados com entrada pela rua de Lisboa, em Ponta Delgada.

De acordo com o responsável, a retirada de objetos daquela unidade que transformava beterraba em açúcar tem sido feita “progressivamente desde 2018”, diz sobretudo respeito a tanques e deveu-se ao “risco de ruína”.

Por agora, ainda lá estão o laboratório da beterraba “absolutamente intacto”, duas caldeiras, cinco cristalizadores onde se geravam os cristais de açúcar, as máquinas que funcionavam como centrifugadoras para tirar o suco do açúcar, ou os secadores, para onde a produção seguia antes de ir para o embalamento.

Também continua nas instalações o forno de cal que cozia a “800 ou 900 graus”, sempre “o primeiro equipamento a ser ligado, dois dias antes da chegada da beterraba”, e o “último a ser desligado”, que chegou a “incomodar os vizinhos” pois trabalhava 24 horas por dia e, de 15 em 15 minutos, recebia um carregamento de pedra de cal, descreveu o administrador.

“Estamos sempre a monitorizar. Quando identificamos risco, desmantelamos”, observou, apontando o exemplo equipamento de cozedura da beterraba, que estava “suspenso” e “apoiado em traves a apodrecer”, pelo que foi viu os apoios cortados para ser retirado, devido ao “risco de abater”.

O responsável observou que a fábrica estava sujeita a muito vapor, pelo que as madeiras e os alumínios se foram deteriorando.

De acordo com a página da Internet da Câmara de Ponta Delgada, a Fábrica do Açúcar foi instalada naquele local em 1906, sendo comprada pela SINAGA em 1969.

Quanto à “Coleção SINAGA” que já integra o Museu Carlos Machado, de acordo com o inventário da Secretaria Regional de Cultura, a que a Lusa teve acesso, é composto por centenas de objetos, desde máquinas de produção a balanças a fotografias, passando por pacotes e sacos para açúcar ou bombas a vapor de alimentação de água.

João Paulo Constância explicou que está atualmente em curso a “triagem, higienização e estudo” das peças, tendo em vista a informação e valorização patrimonial.

“Parte do acervo que existia na fábrica já deu entrada no museu [Carlos Machado]. Tem estado a ser estudado e a fazer-se o arrolamento desses bens. Muito desse espólio estava num pequeno núcleo museológico que a fábrica tinha”, indicou.

Na fase já concluída, “levou-se todo o património móvel que era possível”.

“Requer, para ser valorizado, o seu estudo, o que leva tempo. Para essa investigação vamos convidar até outros especialistas para contextualizar e começar a contar a história desta unidade fabril”, revelou.

Quanto aos objetos maiores, “está em estudo qual o melhor destino” a dar-lhe, num “esforço de perceber o que ainda é possível fazer para salvaguardar esta memória”.


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