Mota Amaral diz que Balsemão foi alvo do “mais intenso” combate ‘ad hominem’ no PSD
3 de set. de 2021, 10:26
— Lusa/AO Online
A
sessão de homenagem ao primeiro executivo liderado por Pinto Balsemão,
promovida pelo primeiro-ministro, António Costa, abriu com um discurso
de Mota Amaral, fundador do PSD, antigo presidente do Governo Regional
dos Açores (1976/1995) e da Assembleia da República (2002/2005).O
antigo deputado elencou as várias dificuldades do VII e VIII Governo
Constitucional, como os “ataques extremados” dos adversários políticos
ou as dificuldades financeiras.“Mas a
maior dificuldade à normal governação vinha de dentro das próprias
fileiras da AD e do PSD. Francisco Pinto Balsemão defrontou-se com uma
permanente contestação de grupos organizados, comprovadamente
minoritários, mas nem por isso desistindo de o desacreditar perante a
opinião pública”, criticou.“Foi, sem
dúvida, o mais intenso e menos fundamentado combate ‘ad hominem’ vivido
entre nós na vigência da nossa democracia”, acrescentou.O
antigo deputado considerou “admirável” que Balsemão tenha tido
capacidade para liderar dois Governos, mesmo quando era “vítima de
inqualificáveis procedimentos de colaboradores próximos, por ele próprio
qualificados como traiçoeiros”.“Como
sempre acontece com políticos que o são verdadeiramente, Francisco Pinto
Balsemão se retirou da política, porque os políticos nunca se
reformam”, considerou, elogiando que tenha alcançado O “merecido
estatuto” de senador.Para Mota Amaral, o
homenageado está hoje em condições de “compreender a dimensão trágica da
ação política, os confrontos pessoais, os belos ideais frustrados, os
desgostos, as traições mesquinhas”.“Mas é
esta dura carga que tempera a virtude e enriquece a vida de quem à
política com ‘P’ grande se devota. Quem se fica pelos aspetos lúdicos
que a ação política também contém e se limita a contabilizar vitórias
não percebe nada disso”, defendeu o antigo presidente do parlamento.Na
sua intervenção, Mota Amaral aconselhou a leitura das “Memórias” de
Balsemão, recentemente editadas pela Porto Editora, quer para
conhecimento integral das medidas aprovadas por estes Governos, as
“permanentes interferências” do Presidente da República (Ramalho Eanes,
também presente na primeira fila na homenagem de hoje) ou até por
“outros comentários picantes”.No livro,
Balsemão refere-se a Marcelo comparando-o ao escorpião da fábula da rã e
do escorpião - em que este morre afogado a atravessar um rio, porque
não resistiu à tentação de dar uma ferroada mortal na rã, apesar de esta
lhe dar uma boleia às costas - por montar “intrigas desnecessárias
entre ministros e/ou secretários de Estado”, aproveitando “intervalos do
Conselho de Ministros ou idas à casa de banho para ir dar notícias a
jornalistas”.Outro “balde de água fria de
Marcelo”, ou “a maior traição” referida no livro por Balsemão foi quando
os dois combinaram a saída do atual Presidente do Governo - era
ministro para os Assuntos Parlamentares -, mas que só seria tornada
pública depois das autárquicas de dezembro de 1982. No entanto, a
notícia estava nos jornais no dia seguinte.Mota
Amaral deixou ainda um ‘recado’ para os tempos políticos de hoje, tão
diferentes de quando as propostas políticas eram formuladas “com clareza
e sem ambiguidades”.Mota Amaral, considerou, há
quem tente puxar o PSD para “o bloco da direita” e lamentou que situação
de bipolarização conduza o país para “um impasse”.“Um impasse do qual resulta a permanência do país entre os mais atrasados da Europa, sempre aguardando subsídios”, lamentou.