A exposição de Rui Caria ‘As Mulheres da Terra’, que celebra as mulheres que trabalham na lavoura, é inaugurada no sábado no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas.O trabalho, que foi realizado em 2021 após um convite da Leica para expor na Galeria no Porto, surgiu de uma imagem já antiga que guardava na memória, mas que nunca tinha registado em fotografia, como contou Rui Caria ao Açoriano Oriental.“Este trabalho surgiu porque há muitos anos eu vi uma mulher a trabalhar com vacas num cerrado aqui na ilha Terceira e fiquei a pensar naquela imagem. Na altura chovia muito e eu não registei o momento”, recordou, contando: “Eu nunca tinha visto uma mulher a trabalhar com vacas e fiquei a pensar naquela imagem e em 2021 lembrei-me de produzir alguma coisa que representasse as mulheres da ilha e dos Açores. No país há poucas mulheres a trabalhar nesta área e era um tema pouco explorado, o que me deu o impulso que me faltava para seguir este trabalho”.Assim, decidiu registar fotograficamente o dia a dia de oito mulheres açorianas com idades entre os 21 e os 80 anos: Lisandra, Beatriz, Virgínia, Verónica, Denise, Nélia, Isilda e Urselina. Mulheres que a tempo inteiro ou parcial ajudam a família nesta dura atividade diária que é uma das principais fontes de rendimento de muitas famílias da Ilha Terceira.“Durante alguns meses andei com elas no trabalho. E apesar de elas assumirem que ajudam os maridos, percebi que cada vez que via uma mulher a trabalhar, o marido ficava ao lado e as ajudava. O que me incomodou, dado o estereótipo que temos do que é trabalho de homem e de mulher, o que é cada vez mais irreal”, contou.A força e paixão que estas mulheres põem no seu labor, trabalhando em dias de sol, de chuva ou frio.“Existe, neste trabalho, uma certa privação de normalidade como a conhecemos. Poderíamos imaginar trabalharmos todos os dias, toda a vida, sem um dia de folga, um fim de semana, ou sem podermos viajar?”, questiona, lembrando que todos os dias do ano estas mulheres vão para o campo ordenhar as vacas e tratar dos pastos.O trabalho que foi apresentado em agosto de 2021 na Leica Galeria do Porto já passou por diversos locais do país, como Santa Maria, Nazaré e Angra.Promovida pela AFAA - Associação de Fotógrafos Amadores dos Açores, em parceria com o Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, a exposição é inaugurada no dia 9 de setembro às 16h00 no piso superior da loja do Centro de Artes.Rui Caria, nascido na Nazaré em 1972 e residente na Praia da Vitória, na ilha Terceira, começou em 1990 a realizar pequenos filmes comerciais, tornando-se correspondente da TVI, onde permaneceu como repórter e editor de imagem até 2003. É formador certificado na área multimédia, repórter e editor de imagem, correspondente nos Açores para a SIC desde 2006. Colabora como fotojornalista com alguns jornais nacionais e internacionais. Vencedor e finalista de diversos concursos internacionais, as suas fotos estão publicadas em diversos livros internacionais de fotografia. Em 2016, foi câmara de prata da Federação Europeia de Fotógrafos na categoria de fotojornalismo, na competição de fotógrafo europeu do ano de 2016. Em 2019 venceu o primeiro prémio do Sony World Photography Awards, National Awards.