Açoriano Oriental
Moradores e autarcas alertam para falta de segurança nas viagens de emigrantes
Dois dos emigrantes portugueses que na semana passada morreram num acidente de viação em França foram hoje sepultados em Oliveira de Azeméis, onde a população espera que a tragédia possa
Moradores e autarcas alertam para falta de segurança nas viagens de emigrantes

Autor: Lusa/AO Online

 

Centenas de pessoas compareceram na freguesia de Fajões para participar na cerimónia comum de despedida a Manuel da Rocha Pinho (47 anos) e José Luís Silva (55), ambos emigrados na Suíça e com empregos na construção civil.

“Isto é muito triste, mas ao menos que sirva de exemplo para detetar outras situações ilegais que andem por aí sem nós sabermos”, declarou à Lusa Filipe Marques, que conhecia José Luís pela sua ligação ao Futebol Clube Macieirense.

Joaquim Oliveira, ex-emigrante em Friburgo (Suíça), referiu que às vezes se arrisca nas condições das viagens.

“É tudo por causa da vontade de cá estar. Também vim muitas vezes de carrinha, porque o patrão só nos dizia à última hora se podíamos tirar férias e, nessa altura, vir de avião já ficava muito caro”, contou.

Joaquim Oliveira reconheceu que, mesmo quando era ele próprio a conduzir, percorria os 1.946 quilómetros de Friburgo a Azeméis “em 18 ou 19 horas”, para chegar mais depressa.

A pouca distância, Arménio Silva ouviu-o e, mesmo sem o conhecer, não conteve o reparo: “Olhe que mais seis ou sete horas em cima disso não eram demais”.

O emigrado em França contou que continua a fazer muitas viagens até Portugal em autocaravana, mas deixou o apelo: “É que não é só a estrada que está em causa e muito tempo a conduzir pode ser um risco para vocês e para os outros”.

Presente no funeral, também em representação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa - que solicitou aos autarcas que apresentassem as suas condolências pessoais -, o presidente do município, Hermínio Loureiro, revelou que três psicólogos da Câmara têm acompanhado as famílias desde o dia da tragédia.

O presidente da Junta de Fajões, Jorge Paiva, referiu que o apoio foi “bem recebido”, sobretudo num “ambiente muito pesado”, em que todos se mostram surpreendidos pelas circunstâncias do acidente. “Nunca pensei que um furgão de mercadorias estivesse a transportar pessoas”, afirmou.

Com funeral à mesma hora, Adriano Jesus Sousa, outra vítima mortal do acidente perto de Lyon, foi sepultado no cemitério de Escariz, concelho de Arouca, no mesmo distrito. O emigrante tinha 52 anos e também trabalhava na Suíça.

Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Arouca, José Artur Neves, também se mostrou preocupado pelas condições do transporte utilizado pelos emigrantes que morreram na semana passada.

“Uma carrinha adaptada, sobrelotada, fora de básicas condições de prevenção e segurança, supostamente a sair de países considerados modelos de desenvolvimento socioeconómico e intransigentes no rigor, parece primário de mais para ser verdade. Mas este é um modelo de transporte muito utilizado pelos nossos emigrantes e foi isso o que mais me chocou neste acidente – saber desta desumanidade, imprópria em todos os sentidos”, referiu.

Esta tarde decorreram também os funerais dos restantes passageiros que morreram no acidente, nos concelhos de Cinfães (de onde eram quatro vítimas, incluindo uma criança), Sernancelhe (que contou com um casal entre as vítimas), Pombal, Castelo de Paiva e Trancoso.

Os 12 portugueses, com idades entre os 07 e os 63 anos, morreram na sequência do choque frontal entre a carrinha em que seguiam e um veículo pesado, na quinta-feira passada, na estrada nacional 79, perto de Lyon, na localidade de Moulins (centro).

O grupo tinha partido da Suíça e tinha como destino Portugal. A carrinha desviou-se para a faixa contrária e colidiu de frente com o camião.

O único sobrevivente dos 13 ocupantes da carrinha é o condutor, um jovem de 19 anos, também português, que foi hospitalizado em estado de choque e entretanto detido, na terça-feira.

Também o proprietário da carrinha, tio do condutor, foi detido.

 

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