Ministro do Ambiente admite pouco otimismo em relação a cimeira do clima
COP26
25 de out. de 2021, 08:46
— Lusa/AO Online
“Não estou ainda muito
otimista, mas não quer dizer que as coisas não venham a correr melhor
até lá”, afirmou João Pedro Matos Fernandes em entrevista à agência Lusa
a propósito da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), que vai decorrer
entre 31 de outubro e 12 de novembro na cidade escocesa de Glasgow.Esta
é “uma COP mais importante que todas as outras”, desde que quase 200
países assinaram o Acordo de Paris, alcançado em 2015, para limitar o
aquecimento global até ao fim do século, uma vez que se espera que os
países apresentem compromissos mais ambiciosos de redução de emissões de
gases com efeito de estufa e abandono da produção de energia a partir
de combustíveis fósseis.“Há dias atrás,
ainda faltavam entregar 75 novas declarações de compromisso”, três das
quais de países responsáveis por uma grande quantidade de emissões
carbónicas: Índia, China e África do Sul, disse o ministro.Matos
Fernandes reconheceu “não ter resposta” para a meta efetiva de aumento
da temperatura global até 2100 que sairá de Glasgow: “2,5 graus até ao
final do século XXI, com estes novos compromissos, era de facto um
grande salto em frente. Seremos capazes desse número? Não tenho a
certeza”.“Se não conseguirmos [as
contribuições nacionais mais ambiciosas], a COP, por muito que venhamos a
dizer que correu bem, não vai correr tão bem como isso”, advertiu.Portugal
apresenta-se em Glasgow como “o país que foi o primeiro no mundo que
disse que ia ser neutro em carbono [em 2050] e o país que presidia à
União Europeia quando se comprometeu com ser o primeiro continente
neutro em carbono em 2050 e, depois disso, ter emissões negativas”,
argumentou Matos Fernandes.Em 2015, no
âmbito do acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito
de estufa, o compromisso português era reduzir as emissões carbónicas em
40 por cento até 2030. Agora, esse compromisso é uma redução de 55%.Portugal
vai ainda à COP26 com o compromisso de “em dez anos contribuir com 35
milhões de euros para o financiamento aos países em vias de
desenvolvimento que têm também que fazer um trajeto para apostar nas
energias limpas”.“Muitos destes países,
mormente os que em África falam português, têm já problemas graves de
adaptação e sabem bem já hoje quais são as consequências da mudança do
clima”, salientou o ministro.O
financiamento climático, destinado a criar condições para a transição
energética para fontes renováveis será sempre “o dossiê mais quente” em
Glasgow, tal como aconteceu nas anteriores cimeiras do clima, considerou
Matos Fernandes, que apontou outro tópico que “tem que arrefecer”: a
transparência.“De uma vez por todas, temos
que ter regras que sejam as mesmas para Portugal, para os Estados
Unidos da América ou para a República Centro-Africana de como é que se
contabilizam as emissões”, advogou.Portugal
defende que os créditos de emissões poluentes gerados desde o Protocolo
de Quioto de 1997, “devem ser todos deitados ao lixo porque os valores
que têm são muito discutíveis, com métricas muito estranhas, pouco
transparentes e difíceis de comparar agora”.“Temos
sempre uma posição de negociação, mas a nossa posição de entrada é que
esses créditos não fazem qualquer sentido”, reforçou o ministro do
Ambiente.Matos Fernandes considerou que “é
inevitável que seja ainda mais desafiante uma COP em tempos de crise
energética, porque essa crise não tem rigorosamente nada a ver com
sustentabilidade”.“A eletricidade
encareceu porque o gás natural, que é o combustível fóssil, encareceu.
Os combustíveis estão mais caros porque o bem original – petróleo – está
mais caro”, disse.“É essencial que todos
se comprometam, também por razões de preço mais baixo e por razões de
estabilidade no preço, a avançar muito depressa para um mundo neutro em
carbono. Para o ter, temos mesmo que chegar a 2050 com um mundo mais
eletrificado e com 100% da eletricidade gerada a partir de fontes
limpas”, defendeu.Apesar de considerar que
“o discurso apocalíptico não acrescenta nada” ao esforço por um
ambiente melhor, Matos Fernandes reconheceu que “uma posição mais
alarmista tem sido determinante na consciencialização do cidadão comum”.“Nunca
podemos é criar um discurso de ‘já não vale a pena’, esse temos que
retirar de cima da mesa e, às vezes, o alarme pode fazer com que alguns
encontrem esse álibi. Nenhum [país] se deve desculpar com os outros não
fazerem”, concluiu.