Maria do Céu Patrão Neves na Academia das Ciências de Lisboa

17 de jul. de 2023, 08:26 — Paula Gouveia

Maria do Céu Patrão Neves foi eleita para a Academia das Ciências de Lisboa, tendo tomado posse como membro no início de julho.A professora catedrática de Ética, e também presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, bem como vice-presidente do European Group of Ethics in Science and New Technologies e perita em Ética da Comissão Europeia, pertence ainda ao Global Ethics Observatory (GEObs), da UNESCO.Para a professora catedrática de Filosofia, na área da Ética, na Universidade dos Açores, este é o “reconhecimento da carreira académica e intelectual que venho desenvolvendo, nos Açores, como a nível nacional e internacional”, mas “também uma acrescida responsabilidade na medida em que, a partir de agora, me compete colaborar com a missão e princípios da Academia das Ciências de Lisboa, fomentando o enriquecimento da ciência e da cultura”.  Maria do Céu Patrão Neves confessa, por outro lado, que “num plano fortemente emotivo, esta eleição concede-me o privilégio de experienciar um pouco da história de Portugal, de entrar numa memória que se conserva, numa tradição que se vive no presente”.A professora catedrática e autora e coordenadora de 36 livros lembra que “a Academia das Ciências de Lisboa foi fundada em 1779, na esteira de outras academias e sociedade congéneres que foram sendo criadas na Europa, no século XVIII, como espaços privilegiados de promoção do conhecimento, reunindo os melhores em diversos domínios do saber – inicialmente na área das ciências naturais, ciências exatas e belas-artes – e com a missão de evidenciar o valor social do conhecimento produzido pelos seus membros”.E, para Patrão Neves, “os ideais que estão na origem das Academias iluministas são hoje não só plenamente atuais mas, sobretudo, de promoção dolorosamente urgente”, referindo-se  a ideais como “a convicção no poder da razão, no valor do espírito crítico, na capacidade de se transformar a sociedade derrubando ideias preconcebidas e preconceitos esclerosados e castradores do progresso que se procurava numa intimidade entre conhecimento e ação, entre reflexão filosófica e utilidade pública”. Como salienta a académica,  numa atualidade em que  “a realidade objetiva dos factos cede perante narrativas plurais que evocam forjados mundos paralelos, desenhados por agendas próprias sob objetivos esconsos, sendo construídos através da manipulação de dados e de pessoas também, revestidos da dose certa de emoções, destinadas a exacerbar posições que se tornam cada vez mais intolerantes em sociedades cada vez mais polarizadas”, urge “conhecer mais, estudar,  ler mais, passar a informação adquirida pelo escrutínio da razão, exercer o sentido crítico, desenvolver argumentos lógicos para dialogar com os que pensam diferentemente, para também com eles aprendermos e deles nos aproximarmos estreitando a pertença à comunidade”.Por outro lado, “as academias, com grande independência de livre-pensadora, desempenham um papel único no desenvolvimento da cultura científica, humanista e artística, que se pode exercer em complementaridade com universidades, centros de investigação ou fundações”, sustenta.A Academia das Ciências de Lisboa é dotada de uma biblioteca, arquivo histórico e museu, “disponibilizando as suas coleções em acesso aberto e conservando um riquíssimo património num edificado magnífico; organiza eventos semanais, nos domínios das ciências e das letras, e mantém relações com academias e sociedade científicas de outros países, em particular com as europeias, exercendo-se também como instrumento de qualificação de políticas públicas, através do aconselhamento científico; vem também encorajando as gerações mais novas na iniciação da missão centenária que abraça, através da atribuição de bolsas e prémios de desempenho que valorizam o mérito”, adianta Maria do Céu Patrão Neves.