Açoriano Oriental
Maioria dos utentes com doença venosa nos Açores nunca foi tratada

Resultados preliminares de um estudo nacional sobre a Doença Venosa Crónica realizado pela Faculdade de Medicina do Porto mostra que 74% dos participantes com sintomas da patologia residentes na Madeira e nos Açores nunca recebeu tratamento médico.

Maioria dos utentes com doença venosa nos Açores nunca foi tratada

Autor: Lusa/AO online

"É alarmante que a enorme maioria das pessoas que responderam ao questionário, e que apresentavam sintomas característicos da doença, tenham referido nunca terem sido tratadas ou referenciadas e não tinham qualquer informação sobre o assunto", disse à Lusa o docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Armando Mansilha, responsável pelo trabalho.

Nesta primeira fase do estudo REVEAL-CEAP, que envolveu 1.333 utentes dos Cuidados de Saúde Primários nos arquipélagos da Madeira e dos Açores, verificou-se que 60% dos doentes sofre de sinais de Doença Venosa Crónica (DVC), desde as pequenas varizes às úlceras venosas e que a esmagadora maioria queixa-se de sintomas associados à patologia.

Segundo indicou, os dados preliminares deste estudo indicam igualmente que a Doença Venosa Crónica, que tem como fatores principais o sedentarismo, a obesidade e os antecedentes familiares, é mais prevalente em mulheres, com mais de 50 anos.

Este trabalho, cujos primeiros resultados foram apresentados hoje na Porto Vascular Conference, na FMUP, tem como objetivo determinar a prevalência e caracterizar epidemiologicamente aqueles que têm DVC, nos cuidados de saúde primários.

"Do ponto de vista clínico, percebemos, agora factualmente, que esta é uma doença subestimada e, por isso, subtratada levando a que a doença progrida. Aquilo que hoje é uma variz com indicação para operar, amanhã é uma pele com infeção ou úlcera aberta", explicou o docente.

Na sua opinião, é necessário dar uma maior atenção a estes doentes com DVC, disponibilizar mais informação sobre a patologia, efetuar um melhor diagnóstico e promover o tratamento.

Dessa forma, é possível evitar a progressão da doença para estádios mais avançados ou crónicos, nos quais "já não há possibilidade de reverter na totalidade o quadro clínico, apesar do fortíssimo impacto que tem na qualidade de vida das pessoas", referiu o docente.

O docente acrescentou ainda que a modificação de alguns hábitos de vida para contrariar o sedentarismo e o excesso de peso - como uma alimentação adequada, a prática de exercício físico e cuidados posturais - são determinantes para controlar a patologia.

De acordo com o responsável, além das direções-gerais de saúde da Madeira e dos Açores, o estudo REVEAL-CEAP vai envolver todas as Administrações Regionais de Saúde (ARS) do continente.

Pretende-se que, no fim do estudo, tenham sido incluídos no projeto seis mil utentes, "tornando este num dos maiores estudos epidemiológicos efetuados a nível europeu e internacional", acrescentou Armando Mansilha.

Para a realização deste estudo, a FMUP conta com a parceria da Escola Nacional de Saúde Pública, da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular e da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.


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