Autor: Lusa / AO online
Entre as tripulações das embarcações de pesca D. Manuel, S. Salvador, Maria Miguel e Rosa Faustino apenas se salvaram seis pessoas, recordou à Lusa José Brandão, presidente da Associação dos Pescadores Aposentados de Matosinhos.
Com 14 anos em 1947, José Brandão contou que também o seu pai foi ao mar naquela madrugada em busca de “sardinha grande na Figueira da Foz” e como “com dificuldade conseguiu salvar-se”.
“Apanhou o temporal”, disse, “mas quando saíram as 108 traineiras de Matosinhos estava bom tempo, embora o vento já soprasse de sul”.
Segundo José Brandão, conforme caiu a noite apareceu a tempestade e, com o vento a soprar sueste e depois noroeste, “levantou-se o mar”.
Mestre Cheta, atualmente com 87 anos, estava no mar naquela madrugada “turbulenta” na traineira Senhora das Neves, uma das embarcações que se fez ao mar naquela noite, recordando a madrugada como “inesquecível”.
“A Senhora das Neves aguentou”, concluiu, recordando que sem GPS, os pescadores orientavam-se pelas “estrelas e faróis da costa”.
A obra “Sobreviventes”, das jornalistas Lúcia Gonçalves e Cristina Freitas, editada este ano, relata a experiência de Mestre Cheta, que recordou que pelas duas da manhã avistou o mestre da Rosa Faustino, embarcação que acabou por naufragar.
“Ele também apanhou sardinha, 800 cabazes, parece que estou a vê-lo, à proa, regalado com o peixe, a ver a rede… parece que estou a vê-lo e ele também lá foi”, testemunhou.
Para marcar a data, a Associação dos Pescadores Aposentados de Matosinhos deposita no domingo de manhã uma coroa de flores na praia do Titan, em Matosinhos, junto à escultura “Tragédia no Mar”, de José João Brito.
Esta escultura, feita a partir de uma pintura de Mestre Augusto Gomes, apresenta cinco mulheres em desespero naquela praia.
A tragédia de 1947 deixou mais de uma centena de crianças órfãs e 71 viúvas.