Açoriano Oriental
Liga dos Combatentes quer reabilitar campa de “herói” timorense e português Artur Resende

O Presidente da Liga dos Combatentes defendeu que as autoridades timorenses e portuguesas devem recuperar monumentos e túmulos de militares de Portugal, incluindo a do “herói” da 2.ª Guerra Mundial, Artur Resende, em Díli.


Autor: Lusa/AO Online

Mas, considerou Joaquim Chito Rodrigues, essa recuperação – que em muitos casos já ocorreu uma vez nos anos de 2000 a 2002 – deve ser seguida de manutenção regular para evitar a degradação em que todos se voltam a encontrar.

Em entrevista à Lusa em Díli, Joaquim Chito Rodrigues, disse que das primeiras coisas que fez à sua chegada a Timor-Leste foi visitar o cemitério de Santa Cruz, onde estão enterrados vários militares portugueses, incluindo Artur Resende.

“Era uma campa que já vinha predisposto a visitar. Artur Resende, um açoriano, teve aqui uma ação muito reconhecida pela população local”, contou à Lusa.

Rodrigues disse que “há um movimento de açorianos e de combatentes no sentido de transladar Artur Resende para os Açores”, questão que não cabe à Liga decidir e que pode “ferir suscetibilidades locais, em Timor-Leste, onde é tido como um herói”.

“O que não posso é ficar satisfeito quando vou à campa de um herói timorense, de um herói português, e a vejo naquelas condições”, afirmou.

O presidente da Liga dos Combatentes diz que o caso da campa é exemplo de outros que já tiveram intervenções de recuperação, no início da década passada e que não foram alvo, depois, de qualquer manutenção.

É o caso do Monumento aos Massacrados da 2.ª Guerra Mundial em Aileu, recuperado há cerca de 18 anos, que não foi alvo de qualquer manutenção regular e que voltou agora a ser recuperado por militares portugueses e timorenses.

“O esforço feito em Aileu agora não pode ter que ser feito novamente daqui a 20 anos. Porque Aileu estava digno. A campa que visitei em Santa Cruz estava digna. Houve movimento de restauração dos monumentos. Mas agora estão todos danificados de novo”, lamentou.

“Temos que garantir condições de manutenção, não apenas de restauração. Temos que interessar as autoridades locais, municipais, adidos e embaixadores. Não é só ter palavras ou ações cada 20 anos. É preciso uma atenção permanente sobre esses monumentos que representam e marcam as pessoas”, sustentou.

Chito Rodrigues considerou que na maior parte dos casos a intervenção a fazer “é muito simples” e que, por isso, há condições para em Timor-Leste ampliar o programa de Conservação das Memórias iniciado pela Liga dos Combatentes em vários países.

“Estou convencido que mais quatro ou cinco monumentos vão ser arranjados rapidamente. Penso que este túmulo [de Artur Resende] e outros relacionados com a 2.ª guerra Mundial, vão ser resolvidos”, disse.

“Depois é manter, passar por lá de vez em quando, ir limpando”, afirmou.

Chito Roodrigues insiste que conservar as memórias é “conservar a História” e recordar e homenagear quem “caiu pelo mundo fora, em serviço do país”.

O programa da Liga dos Combatentes decorre há 10 anos, com intervenções em França, Cabo Verde, Guiné Bissau Moçambique e agora Timor-Leste, além de outras em Portugal, onde são conservados 250 talhões e 94 ossários.

Artur Resende, que além da campa no cemitério de Santa Cruz é homenageado com um monumento no bairro do Farol, em Díli, é considerado um dos heróis da 2.ª Guerra Mundial.

Rui Fonseca, que está ligado a Timor-Leste desde 1970, que foi adido da cooperação entre 1999 e 2003 e é um dos grandes especialistas das referências monumentais portuguesas no país, destacou num dos seus textos a história de Artur Resende.  

Natural de Vila Franca do Campo, nos Açores, onde nasceu a 07 de agosto de 1897, Artur do Canto Resende era um engenheiro destacado no Instituto Geográfico e Cadastral, tendo-se destacado pela sua ação durante a ocupação japonesa de Timor-Leste.

“Interpondo-se por vezes às decisões do alto comando japonês, com risco da própria vida, conseguiu salvar a de outros e minimizar o sofrimento de muitos. A sua alcunha ‘Tudo se Resolve’ traduz muito da personalidade deste homem”, escreveu Rui Fonseca.

“Mesmo quando imposta a ‘Zona de Proteção de Maubara e Liquiçá’, ou melhor, mais um campo de concentração com esse nome, e as condições de sobrevivência pioraram, com fome generalizada e falta de recursos de saúde, Resende, com a sua ação, foi conseguindo os mínimos para que todos continuassem vivos e esperançosos no dia de amanhã”, recordou.

Acabou por ser preso em Díli, em 1944 e levado, com outros três portugueses: tenente Liberato, secretário administrativo José Duarte Santa, e o gerente do BNU, João Jorge Duarte, para a ilha holandesa de Alor, em frente a Timor.

Morreu em fevereiro de 1945, devido à fome e à ausência de cuidados de saúde, tendo os seus restos mortais sido transladados para Díli, numa missão incumbida a outros dos nomes maiores de Portugal em Timor-Leste, Ruy Cinatti.

Resende recebeu, a título póstumo, a mais alta condecoração nacional, a Ordem Militar Torre Espada do Valor, Lealdade e Mérito.

Um homem que Manuel Viegas Carrascalão definiu como “um herói da guerra sem a fazer, um herói da neutralidade”, que se ofereceu para administrador de Díli, respondendo com “energia indomável” a todas as “emergências, extorsões, atos prepotentes dos japoneses”.


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