Açoriano Oriental
Walk & Talk 2014
"Já sentimos a necessidade de prolongar o Walk & Talk no tempo" (vídeo)
Festival de Arte Urbana de São Miguel encerrou a 4.ª edição com um balanço positivo.
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Autor: Nuno Martins Neves

“Dão-me só cinco minutos? É que tenho de levar umas cadeiras para a sala ao lado para o workshop”, diz Jesse James quando chegamos à Galeria do Walk & Talk (W&T), no Largo de São João, mesmo à sombra do Teatro Micaelense.

O corresponsável com Diana Sousa pelo Festival de Arte Urbana dos Açores lá vai carregar três bancos corridos antes de se sentar num deles para fazer o balanço da quarta edição do W&T ao Açoriano Oriental. Esbaforido, ao fim de duas semanas de festival - a face visível do trabalho da associação Fala e Anda - Jesse James diz-se cansado mas feliz. “O balanço é extremamente positivo. É o primeiro ano de um novo ciclo, pois o festival mudou um pouco em termos de expressões”, começa por dizer.

A conversa teve lugar na véspera da festa de encerramento (sábado) e a dois dias do final oficial do festival (ontem), mas nem assim o telemóvel de James deixava-o em paz. Sinal de uma organização que ainda é pequena, “apesar de termos assistido a um aumento dos voluntários este ano”.

Voltando ao “relatório e contas” do festival, Jesse James falou num novo ciclo do Walk & Talk. Depois das duas primeiras edições terem apostado fortemente na arte do muralismo e do graffiti, Jesse James e Diana Sousa quiseram levar o festival noutra direção.

“A arte urbana, a arte mural fez sentido no início do festival e continua a fazer sentido no Walk & Talk. A ideia é que isto não é um festival só de street art ou graffiti: foi assim que arrancou e conseguimos chegar às pessoas, mas de ano para ano conseguimos mudar o formato e os artistas que tu trazes e as expressões que desenvolves dentro do festival”.

Este ano, a associação manteve a aposta nos artistas e intensificou a atividade na galeria, tendo ainda atingido o principal objetivo a que se propuseram para este ano: garantir e fortalecer a validação por parte da comunidade.

“É isso que nos interessa nesta nova fase do festival, que estamos a balizar em três anos. Começamos com a educação do público e com a introdução de novas expressões artísticas. Mas já sentimos a necessidade de prolongar o festival no tempo”, explica.

As residências artísticas são um dos aspetos que Jesse James quer ver reforçado nos próximos dois anos: nesta edição foram quatro, mas o corresponsável pelo festival quer ampliar a sua duração e o contacto com as pessoas. As pessoas e a comunidade são das palavras mais repetidas por James ao longo da entrevista. O contacto dos artistas com a população é um dos referência do W&T, e disso é reflexo a peça de dança “Cardume”, de Filipa Francisco e o núcleo de artes performativas 37.25, que foram inspirar-se às ruas de Rabo de Peixe, ou do mural do canadiano Gabriel Spector na rua do Capitão, em São Roque.

“De um ano para o outro, estão mais participativas. Conseguiu-se introduzir novas linguagens artísticas na sociedade, as pessoas já criticam e participam. O processo pedagógico é evidente”.

Para Jesse James, “criou-se um novo espaço e um novo momento de discussão das artes” em São Miguel, que já teve reflexo, segundo diz, noutros projetos, como o surgimento do Ateneu Criativo ou do festival Tremor. E isto acontece, “porque se desbravou caminho, e afinal há público, que era aquilo que nos diziam no primeiro ano ‘as pessoas não compreendem, as pessoas não vão’. Mentira. Existe público, só era preciso desafiá-lo”.

Com o público conquistado, Jesse James aponta para o horizonte: posicionar os Açores como um escape e um espaço de criação artística, aproveitando aquilo que apelida de “exotismo”.

Para James, “o estarmos numa suposta periferia, ou pelo menos num local que não é tradicional da cultura e das artes, é uma vantagem, não é um espaço institucionalizado e os artistas entendem isso. Leva tempo mas já conseguimos criar uma base bastante sólida. Quando ouvimos o Carlos Martins [responsável pelo Guimarães - Capital Europeia da Cultura 2013] dizer que o W&T é o ponto de partida para Ponta Delgada ser uma capital da cultura é motivador”.

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