Autor: Ana Carvalho Melo
O documentário será transmitido na televisão nacional holandesa e
Annette van Trigt pretende ainda apresentá-lo à RTP Açores para possível
emissão no canal regional, assim como aos museus da baleação do Pico e
de New Bedford.
O interesse desta jornalista holandesa pela baleação nos Açores surgiu durante umas férias no Algarve.
“Há três anos estive de férias no Algarve e fiquei numa casa onde
havia muitos livros sobre a baleação, porque a proprietária - Cármen
Rodrigues - é dos Açores e o pai trabalhou na fábrica da Baleia”,
contou, revelando que nas três semanas de férias leu vários desses
livros, entre os quais “Moby Dick” de Herman Melville.
A partir daí começou a crescer a vontade de fazer um documentário
sobre a caça à baleia nos Açores, uma prática que também já se realizou
na Holanda.
Numa primeira fase, procurou aspetos que ligassem os Açores e a
Holanda na caça à baleia, tendo descoberto que essa relação existiu
ainda que por curto período de tempo, restando dessa união uma
embarcação baleeira que está num estaleiro na Holanda.
O atual proprietário da embarcação participa numa regata muito
popular na Holanda que utiliza embarcações históricas, sendo o plano
recuperar este bote para um dia o usar nessa regata. Ainda que durante o
documentário seja colocada a possibilidade de esta embarcação regressar
a São Miguel.
Este bote onde ainda se consegue ver o registo PD 3740, foi enviado
para a Holanda pela União das Armações Baleeiras de São Miguel, num
período em que esta empresa fez um negócio com um parque aquático
holandês para envio de golfinhos vivos, o qual acabou por não avançar.
Em 2015, resolvida a produção do documentário, Annette van Trigt
decidiu vir a São Miguel com a sua equipa para descobrir mais sobre a
história da baleação.
Assim que chegou a São Miguel nesse verão partiu à descoberta,
tendo conhecido Albano e Monique Cymbron que a apoiaram neste trabalho.
O documentário apresenta assim os testemunhos de antigos baleeiros
que de uma forma emotiva recordam os tempos da caça à baleia, assim o
como do filho de um antigo vigia da baleia.
Já Albano e Monique Cymbron recordam a história e a evolução desta indústria baleeira que foi uma das mais importantes na ilha.
A inexistência de um museu dedicado à baleação em São Miguel é
também tema abordado neste documentário, com os antigos baleeiros a
lamentarem o facto de se estar a perder o património material e
imaterial ligado à arte da caça à baleia. Também o estado atual da
antiga fábrica das Capelas, da qual apenas resta uma chaminé, é
lamentado por estes homens.
No entanto, este documentário realça a valentia e coragem dos
homens que em botes de menos de 12 metros iam para o mar caçar o maior
mamífero do mundo.
O documentário apresenta depois a transição para o ‘whale
watching’, destacando o importante estudo dos cetáceos que se tem vindo a
realizar na Região.
A jornalista destacou ainda que a apresentação deste documentário
na Holanda será uma forma também de mostrar a Região, revelando que nas
suas estadias em São Miguel tem encontrado turistas holandeses que, na
sua maioria, afirmam ter tido conhecimento do arquipélago através da
televisão.
Annette van Trigt é jornalista com uma vasta experiência no mundo
da rádio e televisão tendo sido durante várias décadas apresentadora de
programas de informação desportiva na Holanda. Desde 2009, é produtora
de televisão independente dedicando-se a fazer documentários, na sua
maioria relacionados com desporto.