Autor: Lusa/AO Online
“Existem contactos que a SDEA (Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores) tem feito de auscultação de vários interessados na alienação. E esta auscultação decorre e depois, com base nela, se desenhará o caderno de encargos”, acrescentou o secretário regional do Mar, Ciência e Tecnologia, explicando que a Lotaçor (serviço de lotas dos Açores), a dona da Santa Catarina, é que fará o caderno de encargos.
Gui Menezes falava após a audição pela Comissão Eventual de Inquérito ao Setor Público Empresarial e Associações sem Fins Lucrativos Públicas, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel.
O Governo Regional dos Açores adquiriu a empresa em 2009 para evitar que encerrasse e anunciou, em fevereiro deste ano, que estavam em curso negociações para a privatização da fábrica Santa Catarina – Indústria Conserveira, SA.
O governante frisou que, para o Governo Regional, o caderno de encargos tem que garantir a manutenção dos postos de trabalho (atualmente cerca de 140 trabalhadores) da Santa Catarina em São Jorge, dada a importância que a empresa tem "no contexto económico e social da ilha e do concelho da Calheta e ainda para a projeção da conserva dos Açores no mundo".
De acordo com o secretário regional, “o caderno de encargos ditará aquilo que será feito com o passivo” e como será desenhada a alienação da empresa, estimando que seja necessário um investimento na Santa Catarina “entre cinco a seis milhões de euros” para “a modernização” da conserveira e para “baixar os seus custos de funcionamento”.
“Naturalmente que, na eventualidade de existir um novo dono da empresa, mais facilmente ele terá a sua estratégia e definirá a modernização. Mas, a estimativa é que sejam valores nesta ordem para que a empresa se torne ainda mais rentável”, disse, adiantando que a Santa Catarina obteve na quarta-feira “uma certificação mundial com parâmetros reconhecidos internacionalmente de segurança alimentar”, enaltecendo o trabalho do conselho de administração e trabalhadores.
O secretário regional do Mar sublinhou, em sede de comissão, que a Santa Catarina é um projeto com “viabilidade, sendo hoje em dia uma empresa de referência na valorização do atum”.
Gui Menezes foi também ouvido sobre a extinção, em agosto deste ano, da empresa Espada Pescas, unidade de pesca, transformação e comercialização de pescado, garantindo ter sido um processo realizado "com toda a transparência" pela empresa de lotas dos Açores.
Mas, para o CDS/PP, pela voz do deputado e líder do partido nos Açores, Artur Lima, "o Governo Regional arranjou uma maneira de financiar uma empresa falida e essa empresa falida financiar outra empresa falida e de se andar a passar prejuízo de uma empresa para a outra não desenvolvendo nem uma nem outra".
"Espero que o processo da Santa Catarina, uma empresa vital para a ilha de São Jorge e região, seja mais transparente que o processo da SATA", afirmou.
O deputado do PSD, António Vasco Viveiros, apontou que o panorama de uma e outra empresa (Espada Pescas e Santa Catarina) "é negativo".
“A Santa Catarina, independentemente das razões que levaram à intervenção do Governo e aquisição pela Lotaçor, até agora já exigiu um esforço de 13 milhões de euros e continua com um passivo de 14 milhões de euros e tem capitais próprios de cinco milhões de euros”, sustentou.
O deputado do PS, André Rodrigues, referiu que os socialistas discordam da visão do PSD e do CDS que "colocam em causa a grande parte do trabalho realizado" naquelas empresas.
“O PS não tem esta perspetiva tão negativa relativamente ao que foi feito na Santa Catarina e esperamos, e foi confirmado pelo Governo, que agora numa nova fase, também em conjunto com os privados, possamos dar novos passos rumo à viabilidade e sustentabilidade da empresa”, realçou.