Governo dos Açores garante que enterro de lixo nas Flores tem impacto ambiental "diminuto"
22 de jun. de 2023, 15:28
— Lusa
“Não se trata de enterrar
resíduos indiferenciados, nem refugo. Se assim fosse, compreenderia a
preocupação. Trata-se de enterrar composto orgânico estabilizado não
crivado, um material que não produz lexiviados, não produz biogás e cujo
impacto no ambiente é diminuto”, afirmou o titular da pasta do Ambiente
nos Açores, Alonso Miguel.O governante
falava, em declarações aos jornalistas, em Angra do Heroísmo, à margem
da apresentação do Relatório dos Resíduos Urbanos dos Açores de 2022.O
anúncio, feito pelo presidente do Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM),
José Manuel Bolieiro, na terça-feira, na ilha das Flores, gerou
contestação de partidos e associações ambientalistas, mas o secretário
do Ambiente garantiu que o executivo está a cumprir a lei.“Quando
está em causa a saúde pública, o Regime Geral de Prevenção e Gestão de
Resíduos permite o enterramento dos resíduos e aliás esta solução não é
sequer uma solução nova, foi feito também durante a pandemia de
covid-19”, assegurou.Segundo Alonso
Miguel, o CPR das Flores está “numa situação quase de rutura”, com 1.900
toneladas de resíduos para expedir, das quais 1.300 de “composto
orgânico estabilizado”, que “até podia ser utilizado em jardins”, se
fosse “crivado” e não estivesse “absolutamente infestado”.O
executivo também não consegue transportar o composto para a ilha
Terceira, onde fica localizada a única Central de Valorização Energética
dos Açores.“A acrescer às dificuldades na
logística de transportes e na disponibilização de contentores, há
também o facto de ninguém querer transportar esses resíduos nesse
estado”, explicou.O titular da pasta do
Ambiente ressalvou que a acumulação de resíduos nas Flores “não é uma
situação nova” e que “remonta pelo menos a 2015”, altura em que o PS
governava a região.Ainda assim, reconheceu
que a situação se agravou com a destruição do porto das Lajes das
Flores, em 2019, e com a passagem da depressão Efrain, em 2022, “que
trouxe novos constrangimentos” no transporte de resíduos para fora da
ilha.“Isso fez com que os resíduos se
fossem degradando, aumentando o risco de contaminação por lexiviados e
de infestação por pragas”, apontou.A decisão definitiva só deverá, no entanto, ser tomada, em julho, após uma reunião com várias entidades.“Temos
uma reunião agendada para o próximo dia 05 de julho, nas Flores, onde
vamos sentar à mesa presidentes de câmara, presidentes de junta,
Conselho de Ilha, operadores de gestão de resíduos e associações não
governamentais de ambiente, para tomar uma decisão definitiva, mas o que
se pretende aqui é resolver uma situação de emergência, como está
previsto na lei e como já se fez no passado”, frisou.O
governante revelou ainda que serão feitas “viagens extraordinárias”
para transportar para a ilha Terceira 200 toneladas de refugo não
infestado.Até ao final de 2023, deverá
também estar concluída a obra de reestruturação do centro de
processamento de resíduos das Flores, que irá evitar a repetição de
situações deste género, segundo Alonso Miguel.O
PS/Açores anunciou que iria chamar o secretário regional do Ambiente ao
Parlamento, com caráter de urgência, para explicar a decisão, que
classificou como um “retrocesso e um grave atentado ambiental”, posição
que o titular da pasta criticou.“Trata-se
de uma situação de emergência e de saúde pública e esperava-se por parte
do Partido Socialista uma atitude de menos demagogia e de muito mais
responsabilidade nesta matéria, sem alarmar a população e tentando
resolver um problema que inclusive começa a ser gerado durante os
mandatos do PS”, afirmou.