Autor: Paula Gouveia
As canções dos "Homens da Luta" e "Parva que sou", a música dos "Deolinda" que acendeu o rastilho do movimento nascido à mesa de um café e que conquistou o país através das redes sociais na internet," foram a banda sonora do protesto que levou ontem às Portas da Cidade, em Ponta Delgada, não uma "geração à rasca", mas várias "gerações à rasca".
Entre as cerca de quinhentas pessoas que não se intimidaram com a chuva - que teimava em aparecer, intercalada com o sol - e que se concentraram na praça central da cidade, estavam não só os jovens "desempregados, quinhentoseuristas e outros mal remunerados, escravos disfarçados" que se autodenominaram de "geração à rasca", mas também as gerações dos pais e dos avós estavam lá representadas.
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Nos cartazes, alguma ironia - "Querido vamos viver juntos... com os meus pais... e com a minha avó" ou "Cunha precisa-se"-, mas também algum idealismo - "Quero acreditar num futuro digno" - e muitas questões - "E os estudantes pá?", "E os professores pá?" ou "Ai os mercados... E o povo pá?". Nos gritos de protesto, ouviam-se muitos "basta!", mas também "Queremos trabalhar!".
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Das Portas da Cidade, os manifestantes rumaram ao Palácio da Conceição, sede do Governo Regional, na esperança de que pudessem deixar o manifesto nacional da "Geração à Rasca" com algum representante do Executivo açoriano, mas acabaram por concluir "Não está ninguém em casa" - e ficou decidido fazê-lo amanhã.
Na rua não estavam os milhares de manifestantes dos protestos realizados em Lisboa e Porto, mas Diogo Pereira, da organização, estava satisfeito com a adesão em Ponta Delgada ao movimento cívico nacional "geração à rasca" que também passou pelas cidades da Horta, na ilha do Faial, e de Angra do Heroísmo, na Terceira. "Já passámos a mensagem", sublinhou. "Esta não é uma guerra de gerações, nem estamos a tentar despedir a classe política, antes pelo contrário. Nós queremos trabalhar em conjunto com os nossos líderes políticos e fazer-lhes perceber que estamos no sufoco e que têm de começar a tomar as decisões correctas para melhorar a nossa qualidade de vida", explicou.
E, a fazer jus à faixa que abria a manifestação onde se podia ler "Gerações à Rasca", Diogo Pereira deixou o reparo: "a precariedade, a crise do país está a afectar muito mais do que uma geração - se olharmos à nossa volta temos aqui idosos, homens e mulheres à volta dos 40-50 anos que também estão a sentir a precariedade".
Antes de desmobilizarem, os manifestantes deixaram na vedação e nos portões do Palácio da Conceição os cartazes que trouxeram para a rua, sob o olhar atento do dispositivo policial que acompanhou os protestos de perto, controlando simultaneamente o trânsito.
Em todo o país, segundo informações dadas pela organização nacional, participaram cerca de 300 mil pessoas na manifestação apartidária, convocada pela internet espontaneamente por cidadãos anónimos.Na página do Facebook, 66726 pessoas confirmaram a presença no protesto da "geração à rasca", mas só em Lisboa estiveram pelo menos 200 mil pessoas e mais 80 mil no Porto, referiu à Lusa a organização.
Leia esta notícia na íntegra no jornal Açoriano Oriental de domingo, dia 13 de Março de 2011