Gabinete de Costa nega pedido da Câmara de Setúbal sobre associação
Ucrânia
29 de abr. de 2022, 16:44
— Lusa/AO Online
Numa nota enviada à comunicação social, o gabinete do
primeiro-ministro, António Costa, confirma que, tal como havia já
afirmado a autarquia, recebeu há duas semanas uma carta do presidente da
Câmara de Setúbal, André Martins (eleito pela CDU), mas nega que lhe
tenham sido solicitadas informações sobre a Associação dos Emigrantes de
Leste (Edintsvo).
"Na referida carta não é solicitada qualquer informação sobre a
Associação EDINSTVO, nem sobre o cidadão Igor Khashin [membro da
associação]", lê-se na nota.
Segundo o mesmo texto, a carta que André Martins dirigiu a António
Costa "no passado dia 11/04/22 é um protesto sobre declarações prestadas
pela embaixadora da Ucrânia em Lisboa, à CNN, e foi reencaminhada para
os efeitos tidos por convenientes para o MNE [Ministério dos Negócios
Estrangeiros]".
A Câmara Municipal de Setúbal disse hoje que há duas semanas, depois de
afirmações da embaixadora da Ucrânia em Portugal, Inna Ohnivets,
relativamente à Edintsvo, questionou formalmente o primeiro-ministro.
O pedido, indicou a autarquia, foi feito “no próprio dia, por
ofício”, pedindo que o chefe do Governo se pronunciasse sobre as
declarações e “esclarecesse com a maior brevidade possível se o Alto
Comissariado para as Migrações mantinha a confiança nesta associação,
não tendo obtido resposta até ao momento”.
Esta tomada de posição do município surgiu na sequência da notícia
divulgada hoje pelo Expresso de que refugiados ucranianos estão a ser
recebidos na autarquia por russos pró-Putin.
Segundo o jornal, pelo menos 160 refugiados ucranianos terão sido
recebidos por Igor Khashin, da associação Edintsvo, e pela mulher, Yulia
Khashin, funcionária do município, que terão, alegadamente, fotocopiado
documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da
Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal.
A autarquia reconheceu que “Igor Khashin colabora, regularmente, há
vários anos, com várias entidades da administração central, entre as
quais o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Alto
Comissariado para as Migrações e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras,
tendo prestado esta colaboração já este ano em instalações de alguns
destes serviços em Setúbal, no contexto do acolhimento de refugiados da
guerra da Ucrânia”.
A Câmara de Setúbal assegurou que “são cumpridos todos os requisitos
técnicos inerentes a um atendimento social” e que a “recolha de
informação só é feita com autorização expressa por escrito dos
próprios”, tratando-se de “um procedimento reconhecido e utilizado pelas
entidades que, em Portugal, fazem este tipo de trabalho”.
A autarquia acrescentou que “repudia com a veemência toda e qualquer
insinuação de quebra de sigilo no tratamento de dados de cidadãos
ucranianos acolhidos nos seus serviços”.
De acordo com o jornal Expresso, a Edintsvo foi subsidiada desde
2005 até março passado pela Câmara de Setúbal, e Igor Kashin e Yulia
Khashin terão também questionado os refugiados sobre os familiares que
ficaram na Ucrânia.
Na sequência desta notícia, a Câmara de Setúbal retirou do acolhimento
de ucranianos a técnica superior de origem russa Yulia Khashin e disse
que vai pedir uma averiguação ao Ministério da Administração Interna
para apurar "a veracidade das suspeitas veiculadas pelo jornal Expresso,
manifestando total disponibilidade para prestar toda a informação
necessária”.