Autor: Lusa/Açoriano Oriental
"O que eu pretendi fazer foi descodificar o desenho científico, colocá-lo ao alcance de todos, mostrando os vários passos para a produção de uma ilustração científica", afirmou à agência Lusa António Frias Martins, biólogo e catedrático jubilado da Universidade dos Açores.
A exposição, intitulada "Ver para crer" e organizada pelo próprio investigador, apresenta vários aspetos científicos no domínio da malacologia (área dedicada ao estudo dos moluscos, como caracóis e lesmas), dando a conhecer, entre outros, a ilustração da primeira espécie que descreveu, em 1981.
"O desenho tem um lugar que a fotografia não pode tirar, porque na transmissão daquilo que queremos dizer aos que nos leem temos de ser muito precisos e, muitas vezes, a fotografia não chega a tanto", explicou António Frias Martins, que também recorre à fotografia digital para estudar a anatomia dos moluscos.
Além das ilustrações científicas, o Centro de Ciência Expolab vai ter em exposição vários rascunhos e a prancheta usada para os desenhos, entre outros elementos.
Os Açores têm identificadas e descritas mais de uma centena de espécies de moluscos terrestres, como caracóis e lesmas, sendo que cerca de metade são endémicas.
"Já descobri muitas, mas descrever é outra coisa. Já descrevi dez espécies [endémicas de moluscos], seis da ilha de Santa Maria e quatro da ilha Terceira", referiu António Frias Martins, garantindo que este é um trabalho que pretende continuar a desenvolver.
Na quinta-feira à noite, a Sociedade Afonso Chaves promove uma sessão de homenagem no Expolab a António Frias Martins, que visa reconhecer o papel do investigador em prol da ciência e da cultura científica no arquipélago.
"Quando fazemos o que gostamos e cumprimos a nossa obrigação não estamos à espera que reconheçam ou façam homenagens especiais", considerou António Frias Martins, assumindo que ficou constrangido com a atitude da Sociedade Afonso Chaves, a que preside.
O investigador foi diretor do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores e pró-reitor para a Ciência. Foi, ainda, fundador do centro de investigação CIBIO-Açores, dedicado ao estudo da biodiversidade e ilhas, organismo que dirigiu durante dez anos, e foi presidente da Unitas Malacologica - Associação Mundial de Malacologia.
António Frias Martins publicou mais de uma centena de artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, onde descreveu 15 espécies novas para a ciência, dez das quais endémicas dos Açores.