Açoriano Oriental
Ex-presidente da SATA considera "asneira" anunciada renovação da frota de longo curso
O ex-presidente da administração da SATA António Cansado considerou hoje uma "asneira" a anunciada renovação da frota de longo curso da companhia aérea dos Açores, dizendo que é "o empurrão" que faltava para a empresa "cair no precipício".
Ex-presidente da SATA considera "asneira" anunciada renovação da frota de longo curso

Autor: Lusa/AO Online

"Reduz a esperança de vida da SATA Internacional a aposta em aviões A-330 porque, em termos operacionais, isto significa ter aviões de grande porte que têm capacidade excessiva para a rede da SATA e isto, digamos, era o empurrão final que faltava para que a empresa se despenhasse no precipício. Falando bem e depressa, é isso. Os custos de exploração são elevadíssimos e a SATA não tem uma rede adequada para este tipo de avião", afirmou.

António Cansado, que presidiu à SATA entre 1997 e 2007, considerou que a intenção da empresa de comprar dois aviões A-330, com capacidade para 284 passageiros cada, "é uma asneira", que se rege "precisamente pelo mesmo critério incorreto" que levou, em 2009, à compra da atual frota da SATA Air Açores (para os voos inter-ilhas).

Naquele ano, a empresa optou por comprar quatro aviões DASH de 80 lugares cada (e outros dois de perto de 40 lugares) que hoje se revelam ser demasiadas aeronaves e com capacidade excessiva, estando parte desta frota "ociosa", como assume a própria empresa no seu 'business plan' até 2020, destacou António Cansado.

Para o antigo administrador da transportadora, a escolha desta frota para os voos inter-ilhas foi um dos motivos que levou à "enormidade" da situação atual da empresa, que em 2013 e 2014 teve prejuízos de 30 e 35 milhões de euros.

António Cansado lembrou que em 2007, último ano em que esteve à frente da SATA, a empresa teve lucros de 4,9 milhões de euros, ficou com 22 milhões de provisões e tinha em tesouraria mais 42 milhões, sem necessidade de recorrer às operações de financiamento atuais e que se transformaram, no ano passado, num passivo bancário de 112 milhões de euros.

Para António Cansado, um "caldinho terrível" levou à situação atual. Além da escolha errada da frota da SATA Air Açores, enumerou o aumento de custos de 30% com o pessoal (resultado do poder do sindicato dos pilotos), a compra de mais um A-320 em 2009 (desnecessário, uma vez que a empresa transportou desde então menos pessoas) e a “estratégia comercial" dos "preços reduzidos" num momento de aumento dos combustíveis. Isto apesar de a criação da taxa de combustível ter passado este sobrecusto, pelo menos em parte, para os passageiros.

"Reduzir as tarifas tem de ser resultado de um trabalho que tem de ser feito a prazo, não pode ser feito imediatamente, porque se decide politicamente: 'reduzam-se as tarifas'. Com que consequências? Se nós estamos aqui hoje, se chegámos aqui hoje, por alguma razão foi. É essa a grande questão, a questão de fundo", afirmou.

António Cansado defendeu que os A-310 que vão ser substituídos poderiam continuar a voar, não se colocando a questão da longevidade, uma vez que a Airbus, apesar de ter descontinuado o fabrico da aeronave, garante a continuação do fabrico de peças para a sua manutenção.

Segundo as suas contas, mesmo investindo na modernização das aeronaves, a manutenção dos A-310 traduzir-se-ia numa poupança de 11,5 milhões de euros para a SATA até 2020.

No caso da SATA Air Açores, defendeu que a opção deveria ter sido por aviões ATP, mais baratos e mais pequenos e, assim, mais adequados à procura, lembrando que a taxa de ocupação em 2013 e 2014 nos voos inter-ilhas foi de apenas 56%. Por outro lado, considerou que a frota ATR que existiu até 2009 podia ainda ter voado mais dois anos, permitindo à empresa constituir reservas e preparar-se melhor para suportar a sua substituição.

António Cansado começou por dizer aos deputados que não comentaria a gestão de quem se lhe seguiu no cargo, mas acabou por tecer diversas considerações, afirmando, por exemplo, que o plano estratégico da SATA até 2020, "de estratégico não tem nada" e não levará à recuperação da empresa, "pelo contrário".

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