Autor: Lusa/AO online
Segundo
informação do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), uma
das entidades envolvidas no estudo, as observações, conseguidas através
do telescópio espacial Kepler (NASA) e outros telescópios à superfície
da Terra, foram realizadas à estrela HD 173701, que tem massa, diâmetro,
temperatura e idade semelhantes ao Sol, mas uma composição química
diferente.
"Do
mesmo modo que estudos envolvendo irmãos, ou até gémeos, têm um papel
importante no campo da psicologia do desenvolvimento", estudos de
estrelas semelhantes ao Sol "permitem aos astrofísicos enquadrá-lo do
ponto de vista evolutivo e da sua estrutura interna", indicou à Lusa
Tiago Campante, investigador do IA.
Segundo
o também investigador da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
(FCUP), o estudo da variabilidade de uma estrela semelhante ao Sol
permite compreender os mecanismos físicos do ciclo solar e a forma como
este afeta o clima da Terra, fornecendo novas pistas para prever como a
irradiância solar irá evoluir com o tempo.
E
acrescentou: "há exemplos históricos de como a atividade solar afeta o
clima, como é o caso do chamado mínimo de Maunder, um período de cerca
de 50 anos de atividade solar mais fraca que o normal, que começou no
final do século XVII, e que coincidiu com uma míni época glaciar, em
especial na Europa".
Com
base nas observações, a equipa foi capaz de medir um ciclo de atividade
magnética da estrela HD 173701, o qual se traduz, entre outros fatores,
por uma variação temporal do brilho, explicou Tiago Campante.
De
acordo com o cientista, o ciclo de atividade magnética detetado na
estrela em causa tem uma duração de 7,4 anos, enquanto a do ciclo solar é
de 11 anos (a periodicidade do ciclo solar foi determinada há vários
séculos, através de observações que incluíam a medição do número de
manchas na superfície).
Contudo,
continuou o investigador, apesar de ter ciclos de atividade menores, a
amplitude da variação do brilho medida na estrela HD 173701 é
significativamente maior do que no caso do Sol.
"Como
a metalicidade (abundância de elementos mais pesados que o hélio) é a
única característica diferenciadora entre as duas estrelas, foi
atribuída a esta propriedade a causa de tal disparidade, visto que a HD
173701 é duas vezes mais rica em metais que o Sol", referiu Tiago
Campante.
Os
dados recolhidos nas observações permitiram então concluir que a
quantidade de metais na composição da estrela pode ser o fator que
influencia a sua variabilidade.
No
caso do ciclo solar, este é regido pelo dínamo solar, resultante da
interação entre os campos magnéticos, a convecção (processo de
transporte de energia que se verifica nos líquidos e gases, podendo
também atuar no interior de uma estrela) e a rotação diferencial do Sol.
No
entanto, "a física por detrás do dínamo solar ainda não é totalmente
conhecida", podendo os estudos de estrelas semelhantes ao Sol ajudar os
cientistas "a conhecer e a compreender melhor a nossa própria estrela",
disse a ex-aluna de doutoramento do IA e da FCUP, Ângela Santos,
referida no comunicado.
"Através
de estudos como este, que envolveu diferentes tipos de observações,
componentes e técnicas, podemos obter informações detalhadas sobre as
propriedades das estrelas, incluindo propriedades magnéticas. E, assim,
compreender melhor os processos físicos que dão origem aos ciclos de
atividade magnética", acrescentou Ângela Santos, atualmente a trabalhar
no Space Science Institute, em Boulder (Estados Unidos).
As conclusões avançadas pelos investigadores foram publicadas na revista científica The Astrophysical Journal.