Autor: Lusa/AO Online
Filha de açorianos, ambos da ilha de São Miguel, Susana Bettencourt aprendeu em criança técnicas de artes açorianas, como o crochet, a renda de bilros, a malha de tricot, a escama de peixe e o bordado a ouro.
"Se vinguei na faculdade e na Central Saint Martins em Londres foi por causa do que eu já tinha aprendido desde pequenina com a minha madrinha, a minha avó e a minha tia. A influência açoriana é o que forma a minha marca", explica a estilista.
O Festival Walk & Talk, que começa hoje e decorre até dia 1 de agosto, reúne mais de 70 artistas que vão mostrar a sua arte pelas ruas de São Miguel em conjunto com artesão açorianos, tornado a ilha numa galeria a céu aberto.
"A parte mais interessante é que tem a ver com o artesanato açoriano. Eu, por exemplo, vou ficar responsável pelo bordado do ponto matiz. Cada designer tem de apresentar o seu cunho pessoal e descontextualizar a própria técnica", esclarece a designer de moda.
A criadora encara o evento como uma oportunidade para estabelecer contato com artesãos açorianos que possam vir a desenvolver as criações da estilista.
"É muito difícil encontrar alguém que o compreenda o ponto. Acho que é preciso ter uma habilidade que já venha connosco. As artesãs da ilha vão ajudar-me imenso e eu gostava de começar a ter projetos com elas, de forma a que as próprias coleções venham de lá", refere Susana Bettencourt.
As coleções da designer com cunho açoriano já chamaram a atenção de artistas internacionais como Rita Ora, Alexander Burke e Lady Gaga.
"A Lady Gaga apareceu na minha coleção de mestrado, tinha acabado de sair da faculdade, fui destacada para apresentar no Victoria and Albert Museum e foi lá que a equipa dela viu o desfile e quis tirar algumas peças. Foram emprestadas peças e depois ela quis algumas exclusivas que desenhei e desenvolvi só para ela. Foi a minha primeira compradora", recorda Susana.
A estilista acredita que as técnicas açorianas, aliadas à expansão turística em Portugal podem ser a chave para o sucesso de futuras coleções.
"Nas lojas portuguesas, vendo muito a turistas. Compreendem o produto, compreendem a dificuldade e o trabalho que está ali e porque é único: eu não comprei o tecido, foi feito de raiz, fio a fio, cabo a cabo. Claro que tem os seus custos", conclui a designer.
Susana Bettencourt, 30 anos, é natural de Lisboa mas passou parte da infância e adolescência nos Açores. Viveu em Londres durante dez anos onde fez uma licenciatura na escola de artes Central Saint Martins e um mestrado na London College of Fashion.