Açoriano Oriental
Do espaço, vê-se o ser humano a destruir a sua própria casa
Vista do espaço, a Terra "parece um sítio em que o ser humano destrói a própria casa", alertou o cosmonauta russo Mikhail Kornienko, perante um auditório cheio em Coimbra.
Do espaço, vê-se o ser humano a destruir a sua própria casa

Autor: Lusa/Açoriano Oriental

 

O cosmonauta, que parou em Coimbra a caminho de uma viagem aos Estados Unidos, onde vai fazer exames médicos, recordou que, em 2007, esteve no monte Kilimanjaro, na Tanzânia, e viu o ponto mais alto de África coberto de gelo. Da última vez que viu o monte, desta feita no Espaço, "a cobertura de gelo" já lá não estava.

E lembrou também a vista das "falhas existentes na Amazónia e é muito triste ver os quadrados enormes no meio da Amazónia" que sinalizam a desflorestação, disse perante uma plateia de crianças, adolescentes, jovens estudantes universitários e pessoas mais velhas, curiosos para saber como era a vida de Mikhail Kornienko lá em cima, no espaço, onde esteve a bordo da Estação Espacial Internacional por duas vezes, uma delas durante 340 dias consecutivos - a segunda mais longa estadia de um ser humano no espaço.

Mikhail Kornienko, apelou para que os jovens mudem as suas atitudes para defenderem o planeta - até a "mais pequena [atitude] faz a diferença", afirmou.

A 2 de março de 2016, Kornienko regressou à Terra, após 340 dias na Estação Espacial Internacional, onde encontrou um "exemplo de relações internacionais e de cooperação entre países".

"Lá em cima, não há discriminação de raças, não há fronteiras, nem diferentes países. Há uma equipa, uma tripulação que tem de agir em conjunto. É um exemplo de como nos devemos relacionar com as pessoas, de como toda a gente se devia relacionar neste momento", frisou o cosmonauta, considerando que a sobrevivência dos seres humanos depende da rapidez com que se consigam juntar para trabalhar com um propósito comum, acabando com fronteiras e guerras.

"Como é que come? Porque é que tem dois relógios? Como toma banho? O que é que fazem o dia todo na estação espacial? Tem saudades do quê? Qual o momento mais difícil?", foram outras das perguntas feitas pela plateia.

Depois da aterragem, as duas primeiras semanas são "muito complicadas", em que há tonturas, dores "em todo o lado" e "as pernas tremem que nem varas verdes", contou, frisando que mesmo hoje, mais de um ano depois do regresso, nota problemas nas articulações.

No entanto, a componente psicológica é a mais complicada.

"É difícil estar num espaço confinado, sem relva, árvores, sem verde à volta. É uma questão muito difícil a nível mental", frisou, considerando que as saudades que se sentem dentro da estação espacial são diferentes daquelas que se sentem em terra, pela distância tremenda de separação da família.

"Tive um sonho recorrente. O de como podia ir de fim de semana a casa. Acontecia muitas vezes e o medo no sonho era de atrasar-me no voo de regresso" à estação espacial, contou, realçando que por lá, como na Terra, também é necessário ter-se sentido de humor "para sobreviver".

Na estação espacial, referiu Mikhail Kornienko, não há tempos mortos e todas as semanas há videoconferências com a família todas as semanas.

Hoje até chamadas se podem fazer: "se me der o seu número de telemóvel posso-lhe ligar da próxima vez que lá estiver", disse a uma mulher que estava na plateia.

Questionado sobre coisas mais práticas, explicou que a comida é saborosa e saudável - apesar das saudades de fruta, vegetais e das batatas fritas que a sua mulher lhe faz -, que não há chuveiro, apenas umas toalhas húmidas, e que um dos relógios com que andava por lá é na verdade um medidor de biorritmos.

O cosmonauta russo mostrou-se ainda confiante sobre a possibilidade de, no futuro, haver colónias de seres humanos em outros planetas.

"O planeta Terra é o berço da humanidade e não podemos ficar sempre no berço como os bebés", frisou, considerando que a colonização "é possível", precisando-se apenas de outro tipo de motores e de tecnologias para se explorar "mais a fundo outros planetas".

A vinda de Mikhail Kornienko a Coimbra foi organizada em conjunto pelo Departamento de Física da Universidade de Coimbra (UC), pelo Observatório Geofísico e Astronómico da UC, pelo Instituto Pedro Nunes e pelo Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas.

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