Autor: Sara Rocha Silva
Comecei por
pintar o fundo em tom de azul e roxo, deixei secar. Depois de pintar as
nuvens rápidas pelo vento e começar a fazer apontamentos da camada
seguinte como quem monta um cenário, recebemos uma visita querida.
Interrompi meu desenho mas logo depois retomei, aí surgiu camadas de
branco e de negro. Eu tinha escolhido o meu quintal como o que avisto da
minha janela, pode soar parvo mas sento-me lá fora, inserida numa
moldura espacial. Não sei se foi uma boa opção, mas em fim. Entretanto,
passei para dentro de casa, no sofá. Olhei para o desenho de pernas para
o ar como se tivesse a flutuar, a desafiar a lei da gravidade. Pensei
em desenhar-me nas páginas seguintes sem sombras para evidenciar a
ideia, mas acabei por ver minhas mãos sobre o caderno, e contornei um
dedo, preenchi-lhe com detalhes e a seguir contornei sua sombra. A
questão da janela, ainda, vinha ao de cima. Atrás de mim pela janela
vinha luz, incidia sobre o papel, fazia sombras. Anotei as zonas de
contraste através da linha de contorno, não só através das sombras do
relevo do papel como o que estava do outro lado, por detrás devido à não
total opacidade do papel. Esses contrastes desvaneciam, apareciam e se
fundiam. Quando dei como acabado, entrou minha mãe com o Papi e com um
trevo de 5 folhas, após a sua caminhada. Não gosto de apanhar flores e
plantas, no entanto lá estava ele, símbolo de sorte, de azar e de uma
caminhada ao ar livre. Hoje ouvi a professora Alexandra, se não me
engano, com a analogia da janela e dos nossos cadernos. Aqui vai a minha
janela!