Autor: Lusa/AO Online
“Fui durante 30 anos pescadora. Tenho o meu próprio barco no porto da Caloura, em Água de Pau [ilha de São Miguel], mas desde há quatro anos estou fora da atividade, devido a um acidente e os médicos não me autorizam a trabalhar”, contou Lurdes Batista à Lusa.
Casada com um pescador, Lurdes Batista diz que a pesca sempre foi o seu "ganha-pão", uma profissão que já passou para os três filhos, um dos quais mestre de embarcação, como o pai, e os outros dois pescadores.
“A embarcação ainda é minha. Sempre vivi da pesca. Fiz a minha vida como pescadora”, disse Lurdes Batista, lamentando, no entanto, que a vida do mar esteja "difícil comparando com há dez anos".
A pescadora, dirigente da Associação Ilhas em Rede desde há um ano, atribui as dificuldades atuais no setor à "falta de peixe" e a desvalorização do pescado.
É na organização Ilhas em Rede, com sede em São Miguel, que encontra também outras pescadoras, mulheres que exercem esta profissão no arquipélago e que pretendem "mostrar que não se trata de um trabalho apenas para homens".
“A associação é para que as mulheres pescadoras tenham os mesmos direitos que os homens”, frisou a dirigente da Ilhas em Rede, admitindo que "muita coisa já se resolveu" e "já é visível uma alteração de mentalidades".
Criada há sete anos para “dar visibilidade” ao trabalho das mulheres pescadoras, a associação tem atualmente perto de 40 associadas em todas as ilhas dos Açores, mas desconhece quantas pescadoras existem no arquipélago, pelo que um dos objetivos é elaborar um estudo neste sentido.
“Pescadoras podem existir muitas. Umas vão regularmente para o mar, mas outras trabalham na pesca na terra, porque se dedicam à preparação das artes (gamelas, cofres, redes), ou até a atividades administrativas em terra, tratando de papéis. Por isso, é que queria fazer um estudo até para saber se aumentou ou diminuiu o número de mulheres devido à crise", referiu.
A 08 de julho, a Associação de Mulheres na Pesca nos Açores assinala o seu sétimo aniversário, segundo Lurdes Batista, afirmando que são realizadas reuniões mensalmente.
"Queremos sempre saber as dificuldades de todas as mulheres pescadoras. Apoiamos também as associadas em relação a tudo o que têm para saber sobre leis", descreveu Lurdes Batista, salientando que as mulheres pescadoras debatem-se com "muitas dificuldades".
"Querem dinheiro para pagar água e luz e não têm devido à falta de rendimentos", afirmou.