Açoriano Oriental
Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo tenta reerguer-se após 15 meses de inatividade
A delegação de Angra do Heroísmo da Cruz Vermelha Portuguesa, fundada há 100 anos, nos Açores, procura retomar a atividade depois de um período de 15 meses praticamente inativa, disse à Lusa o seu atual presidente.
Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo tenta reerguer-se após 15 meses de inatividade

Autor: Lusa/AO Online

“Esteve praticamente inativa. Não distribuía roupa, não fazia o transporte de doentes. Portanto, não fazia praticamente nada. Nunca foram criados protocolos”, adiantou, em declarações à Lusa, António Cunha, que em janeiro tomou posse como presidente de uma comissão administrativa da delegação.

Esta comissão tem como objetivo normalizar a situação e criar um conselho de curadores que nomeie uma nova direção.

Criada a 13 de junho de 1917, a delegação da Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo passou a Centro Humanitário da Ilha Terceira, aquando de uma reestruturação da Cruz Vermelha, em 2015, tendo ficado na dependência de um delegado especial para os Açores sedeado no Centro Humanitário de Ponta Delgada (S.Miguel), criado nesse ano.

Segundo António Cunha, os protocolos que a delegação tinha com vários departamentos do Governo Regional dos Açores não foram renovados, o que conduziu à inatividade do centro da ilha Terceira.

Entretanto, a estrutura de Angra do Heroísmo voltou a chamar-se delegação e recuperou a autonomia, mas António Cunha disse tê-la encontrado “num estado calamitoso”.

“As ambulâncias apodreceram, ficaram completamente degradadas, de tal maneira que nós tivemos que mandá-las para o centro de abate, porque elas não tinham conserto. Só sobrou uma, que com muito esforço está a ser reparada”, adiantou.

Além da perda de três ambulâncias, a delegação teve de queimar “oito toneladas de roupa” doada, que se encontrava fechada num armazém “completamente degradado”.

Os salários dos funcionários foram assegurados pelo município de Angra do Heroísmo durante alguns meses e atualmente são pagos pela direção nacional da Cruz Vermelha, mas o presidente da comissão administrativa considera urgente retomar a atividade.

“Uma das regras das delegações da Cruz Vermelha é a sua autossustentabilidade e neste momento isto ainda não é possível”, frisou.

Nesse sentido, a delegação já apresentou uma proposta de protocolo ao Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira, para retomar o transporte de doentes em ambulâncias, e aguarda pela sua aprovação.

“Se o senhor secretário regional da Saúde não assinar este protocolo, esta delegação tem de fechar. Fecha porque não temos poder nenhum de sustentabilidade, mesmo com a ajuda da câmara”, alertou.

A autarquia de Angra do Heroísmo cedeu um espaço para a nova sede da delegação, que prevê retomar a distribuição de roupas, colchões e camas a pessoas carenciadas e criou um banco de ajudas técnicas, para oferecer camas articuladas, cadeiras de rodas, andarilhos e canadianas a doentes sem possibilidades de os adquirir.

Apesar da redução do número de voluntários, durante o período de inatividade, a estrutura mantém 31 voluntários, que deverão receber formação gratuita do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores.

Questionado pela Lusa, o diretor geral da Cruz Vermelha Portuguesa, Luís Névoa, confirmou que a delegação de Angra do Heroísmo teve a sua atividade de transporte e socorro suspensa durante cerca de 15 meses “em consequência do cancelamento, por parte do Governo Regional, dos protocolos existentes relativos a essa atividade”.

O então delegado especial para os Açores “não conseguiu renovar os protocolos”, referiu Luís Névoa.

“A direção nacional procedeu a uma análise do funcionamento da delegação nos seus vários aspetos operacionais e de gestão com vista à sua reestruturação, continuando a desenvolver em simultâneo, junto do Governo Regional, esforços para a renovação dos protocolos o que só agora parece poder vir a acontecer”, adiantou.

A delegação de Angra do Heroísmo foi criada a 13 de junho de 1917, durante a I Guerra Mundial, numa altura em que a cidade já tinha 30 membros da então Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha, tendo prestado socorro aos feridos da guerra que chegavam à ilha Terceira.

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