Crise impõe que Presidente não se deixe influenciar pelo ruído mediático

9 de mar. de 2013, 13:12 — Lusa / AO online

  No prefácio do livro "Roteiros VII" - que reúne as intervenções do chefe de Estado proferidas ao longo do último ano - Cavaco Silva deixa um "guião" sobre aquela que deve ser a atuação do Presidente da República em tempos de crise, sustentando que além do conhecimento rigoroso da dimensão e das razões da crise, "a obediência a uma cultura de responsabilidade" impõe ao chefe de Estado que "não se deixe influenciar pelo ruído mediático ou pelas pressões de grupos ou corporações". "O Presidente deve atuar de forma ponderada e sensata, com equilíbrio e racionalidade, estudando os novos e complexos dossiês que emergem do programa de emergência financeira. Não pode deixar-se arrastar por pulsões emocionais ou afetar pelas tensões que sempre emergem nos tempos de crise", lê-se no prefácio do "Roteiros VII", divulgado hoje, dia em que se assinala o segundo aniversário da tomada de posse de Cavaco Silva para um segundo mandato no Palácio de Belém. Pois, continua, aqueles que "cedem à tentação da visibilidade fácil e da vaidade efémera acabam fatalmente por perder margem de manobra e capacidade de interlocução juntos dos diversos agentes políticos e sociais, os quais, em situações de crise, se colocam frequentemente em posições de antagonismo e conflito, o que reclama uma intervenção arbitral, acrescida mas discreta, do Presidente da República". Além disso, na atual conjuntura de crise seria fácil tirar partido de uma magistratura que não tem responsabilidades executivas diretas para, "através de declarações inflamadas na praça pública, satisfazer os instintos de certa comunicação social, de alguns analistas políticos e de muitos daqueles que pretendem contestar as instituições". "Seria fácil, por exemplo, alimentar sentimentos adversos à classe política ou até à ação do Governo", diz. Contudo, continua, esse não é o seu entendimento do que deve ser a ação responsável de um Presidente da República, "muito menos em tempos de grave crise". Já na parte final do prefácio, Cavaco Silva dedica duas páginas à avaliação dos efeitos da magistratura de influência do Presidente da República, sustentando que na área política o efeito de uma determinada ação consiste na diferença entre duas situações no país, no mesmo período de tempo, com e sem essa ação. Contudo, adverte, se há situações em que no caso da magistratura do Presidente da República é possível saber com exatidão qual seria a alternativa que vigoraria na ausência da intervenção presidencial, por exemplo quando ocorre um veto, a maior parte dos efeitos da magistratura presidencial não é "suscetível de avaliação direta e imediata". Esta situação, acrescenta, é acentuada se o chefe de Estado, "até para aumentar a sua capacidade de influência efetiva sobre o processo político de decisão, guarda reserva relativamente às suas intervenções junto do Governo". Quase em jeito de resposta às críticas que lhe têm sido feitas nos últimos meses ao seu silêncio, Cavaco Silva reitera ainda a sua aversão a "excessos de protagonismo pessoal" e o seu "apego ao superior interesse do país". "Num tempo dominado pelo culto do efémero e do protagonismo mediático seria porventura tentador utilizar a chefia do Estado como palco de atuação de grande efeito, buscando o engrandecimento pessoal através de intervenções mais ou menos populistas, que conquistassem simpatias do momento mas das quais nada resultaria, a não ser um grave prejuízo para o superior interesse nacional", adverte. "A minha missão consiste em contribuir, de forma ativa mas ponderada, para que Portugal vença os desafios do presente sem perder de vista os rumos do futuro. Foi esse o mandato para que fui eleito - e dele não me afastarei um milímetro", promete.