Açoriano Oriental
Crise financeira obriga Estados a intervir na economia
 A crise financeira que se abateu sobre o mundo em 2008 provocou uma viragem na forma como muitos políticos, empresários, economistas e cidadãos comuns encaram as questões económicas e o papel do Estado na economia.

Autor: Lusa/AO Online
 Para compreender esta viragem, importa recordar o que se encontra na raíz do problema.

    A crise teve origem no colapso do mercado imobiliário de alto risco dos Estados Unidos, vulgarmente designado 'subprime', composto por pessoas de menores rendimentos, empregos precários ou mesmo desempregados.

    Para o desenvolvimento do 'subprime', além da excessiva 'liberalidade' da banca, contribuiram dois factores de peso: por um lado, as baixas taxas de juro que a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) praticou durante anos; e, por outro, as políticas estatais de incentivo à compra de casa própria por parte das famílias de menores recursos, postas em prática através de duas grandes instituições semi-públicas que garantiam a maior parte dos créditos à habitação concedidos pela banca nos Estados Unidos, a Fannie Mae e o Freddie Mac.

    Em alguns casos, os bancos chegavam a emprestar dinheiro a pessoas sem rendimentos declarados, confiando que o valor dos imóveis seria suficiente para servir de garantia aos empréstimos.

    Mas os problemas surgiram quando a Fed voltou a subir os juros, em 2005. Muitas destas famílias de menores rendimentos deixaram de conseguir pagar os seus empréstimos, deixando os bancos com milhões de dólares em crédito malparado.

    Além disso, o mercado imobiliário norte-americano foi subitamente 'inundado' por milhares de casas devolvidas ou penhoradas pelos bancos, o que contribuiu para a descida dos preços dos imóveis. Em muitos casos, o valor dos imóveis que serviam de garantia aos empréstimos passaram a ser inferiores aos valores em dívida, fazendo com que centenas de milhar de milhões de dólares emprestados pelos bancos simplesmente se 'esfumassem' da noite para o dia.

    As consequências imediatas deste colapso ficariam restritas ao sector bancário norte-americano, porém, se o risco não se encontrasse disperso por todo o sistema financeiro internacional. O risco do 'subprime' passou a ser partilhado não só pelos bancos norte-americanos que concederam os empréstimos, como também pelos seus congéneres europeus e asiáticos que compraram estes activos 'tóxicos', bem como por todo o tipo de investidores institucionais (seguradoras, fundos de investimento, etc).

    Os primeiros sinais de que a crise era séria surgiram no Verão de 2007, com vários grandes bancos a sofrerem fortes perdas devido ao 'subprime'. As bolsas reagiram em conformidade e, desde então, os principais índices bolsistas têm mantido uma tendência de queda.

    Mas foi em 2008 que a crise se revelou em (quase) todo o seu potencial, com os governos a verem-se forçados a agir de forma a impedir o colapso de todo o sistema financeiro, qual baralho de cartas, bem como a estagnação da economia mundial.

    Mesmo nos Estados Unidos, que nas últimas décadas têm sido o bastião do liberalismo, o governo viu-se forçado a entrar no capital dos bancos afectados pela crise, como forma de impedir o colapso das instituições.

    Isto porque as perdas de centenas milhares de milhões de euros resultantes do colapso do 'subprime' afectaram bancos de todo o mundo, provocando o congelamento do mercado de crédito interbancário internacional. Em tempos de falta de liquidez, os bancos que a têm receiam emprestar dinheiro aos outros, mesmo que, em certos casos, os Estados actuem como fiadores nesses empréstimos.

    Ora sem financiamentos entre bancos, estes não podem por sua vez conceder crédito às empresas. E sem crédito às empresas, muitas não vão conseguir sobreviver.

    Daí que os governos europeus, entre os quais o português, venham a alertar para a necessidade de os bancos concederem crédito às empresas, pois o capital é o 'sangue' da economia, sem o qual esta não funciona.

   
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