Açoriano Oriental
Começou o 'contrarrelógio' para convencer os portugueses a votar na Bélgica

Desde este fim-de-semana está em marcha a campanha “Movimento #comunais2018”, que tem a tarefa de convencer portugueses que nunca votaram a recensearem-se a tempo de participar nas eleições comunais da Bélgica de outubro.


Autor: Lusa/AO online

Sob uma teimosa chuva miudinha, o “Movimento #comunais2018” arrancou este fim de semana em Sint-Jansplein, o coração português de Antuérpia. Foi com uma bandeira nacional hasteada à entrada e com a ‘Paixão’ de Rui Veloso como banda sonora que o Mercado Português, instalado no número 4 daquela praça, recebeu a comitiva encabeçada pelo Conselheiro das Comunidades Portuguesas eleito na Bélgica, Pedro Rupio, e o burgomestre da cidade, Bart de Wever.

Na primeira das muitas iniciativas que vão acontecer em todo o país até 31 de julho, data limite para a inscrição nas listas que permitem votar para as eleições comunais de outubro deste ano, o conselheiro português não perdeu tempo a dizer ao que vinha: “em primeiro lugar, informar as pessoas sobre as possibilidades que têm, pois muitas não sabem que podem votar, e depois tentar convencê-las a fazê-lo”.

“A nível nacional [na Bélgica], temos apenas 10% da comunidade inscrita e temos muito atraso em comparação com outras comunidades estrangeiras. Fazia falta a comunidade organizar uma campanha que venha a sensibilizar os portugueses para esta questão”, sublinhou à Agência Lusa.

As explicações para este ‘divórcio’ entre a comunidade portuguesa e a realidade política belga podem ser muitas, mas para Pedro Rupio há uma que se destaca sobre todas as outras: “Muitas vezes o que me dizem no terreno é que não querem fazer um disparate, porque não estão à vontade com a política, não percebem bem o sistema político belga, que é um pouco complexo. Essa pode ser uma das razões, mas também há outras como, por exemplo, pessoas que não falam o francês ou o neerlandês”.

“De forma geral, diria que as pessoas estão bastante afastadas de tudo o que envolve a política, e por ser um país que, à partida, é estrangeiro não facilita”, resumiu.

Bastaram uns minutos para que a tese do conselheiro português fosse sustentada por António Rocha, que pouco antes tinha presenteado Bart de Wever com um pastel de nata, a revelar à Lusa que nunca se quis “implicar muito na política”.

A viver na Bélgica há 15 anos, o comerciante reconheceu que já em Portugal não votava, fazendo ‘mea culpa’ por si e por outros. “Acho muito bem que se façam estas campanhas para que a comunidade portuguesa não seja esquecida. Mas a culpa não é só dos políticos, a nossa comunidade fecha-se muito”, completou.

Espantado com a visita do presidente de Câmara – “sou fã dele e olhe que não é fácil eu ser fã de alguém” -, Nuno Ferreira, emigrante que há 21 anos trocou Portugal por outras paragens e que há 16 vive na Bélgica revelou à Lusa que não planeia votar nem nestas, nem em outras eleições.

“Não voto aqui, nem votava lá. Aliás, votei uma única vez na vida, para eleger o Presidente da República”, assumiu. O mesmo diria, minutos depois, Patrícia Martins, ao mesmo tempo que evitava as fotografias que documentaram a visita da comitiva ao supermercado Ekiki.

Do lado de fora do balcão, onde espreitavam exemplares do dia do Correio da Manhã e dos jornais desportivos, a emigrante portuguesa, que está na Bélgica há 12 anos, confessou não conhecer o rosto de Bart de Wever.

“Eu sei que é importante votar, principalmente se queremos que resolvam os nossos problemas, mas aqui é complicado”, rematou, quando o burgomestre e o conselheiro português já rumavam ao Cantinho do Alentejano, ou mais concretamente, de Luís Filipe, um ‘filho’ de Vila Nova de Milfontes que está no país desde 1991.

“No meu país nunca votei. Aqui sim, porque tenho nacionalidade belga e é obrigatório ir votar”, disse.

Depois de uma demorada conversa com De Wever, na qual detalhou os problemas burocráticos com que se deparou quando quis montar o seu café, já lá vão quatro anos, este alentejano de Antuérpia elogiou-lhe a coragem de participar na campanha, e avançou outra possível explicação para o desinteresse português nas eleições comunais: “É um bocado complicado viver aqui. Somos vistos um bocado de lado, somos um pouco discriminados”.


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