Açoriano Oriental
CD junta sons da tradicional viola da terra dos Açores aos dos carros de bois
Um CD que conjuga os sons da viola da terra com os sons da passagem dos carros de bois, que levaram à formação de relheiras (sulcos), é lançado em julho, nos Açores, num trabalho do músico Rafael Carvalho
CD junta sons da tradicional viola da terra dos Açores aos dos carros de bois

Autor: LUSA/AO online

"O CD tem vários temas que advêm da minha vivência pessoal, dos locais onde nasci, Ribeira Quente. Do local onde casei, no Pico, a minha segunda ilha. É a minha interpretação para a viola da terra destas situações da minha vida”, afirmou hoje o músico Rafael Carvalho, presidente da Associação de Juventude Viola da Terra, em declarações à agência Lusa.

Denominado “Relheiras”, o terceiro CD do músico e professor no Conservatório de Ponta Delgada, em São Miguel, é executado a solo na viola da terra.

"Tento imitar os sons dos carros de bois na paisagem lávica e que deram origem às relheiras", explicou o músico.

As relheiras são sulcos paralelos deixados na pedra, no caso dos Açores, provocados pela passagem continuada de carros puxados por bois, que durante séculos foram o principal meio de transporte de pessoas e de carga no arquipélago.

As rodas dos carros de bois, normalmente envoltas em aros de ferro, deixaram marcas mais ou menos fundas, consoante a carga que transportavam, causadas pela quantidade de vezes que passaram no mesmo local, seguindo sempre o mesmo trajeto.

São Miguel, a maior ilha do arquipélago, tem contabilizado um quilómetro de relheiras, divididos em dez troços; já o Pico será a ilha com maior extensão deste património, que foi tido em conta aquando da aprovação da Paisagem Protegida da Cultura da Vinha como Património Mundial, em 2004.

De acordo com Rafael Carvalho, o CD tem 10 temas, sete dos quais originais do músico e compostos com outro colega, havendo ainda outros dois tradicionais, um da Venezuela e outro de São Jorge e um tema do músico Sérgio Ávila gravado pela tuna Tunídeos que organiza anualmente um festival de tunas.

“O CD tem alguns temas só com viola da terra, mas também as parcerias com percussão, violoncelo, violino e violão. Reflete muito as minhas vivências”, sublinhou Rafael Carvalho, acrescentando que a ideia foi sempre tentar explorar novas sonoridades a partir do tradicional, como forma de levar a viola da terra a "outros palcos".

A viola da terra possui cinco parcelas de 12 cordas, sendo afinada num tom mais baixo em São Miguel e Santa Maria relativamente às restantes ilhas dos Açores.

O instrumento é também conhecido como viola de arame ou viola de dois corações, sendo semelhante ao violão, mas de dimensões mais pequenas.

Nos últimos anos tem crescido o interesse pela aprendizagem daquele instrumento típico açoriano.

"As pessoas já olham para a viola da terra de forma diferente, pois este instrumento pode integrar um espetáculo para todos os públicos e estar em qualquer contexto e não ser só tocado num grupo folclórico", referiu.

O CD "Relheiras" será lançado em julho, em São Miguel.

O disco vai ser apresentado ainda em setembro no Festival Cordas, no Pico, e no mesmo mês na freguesia da Ribeira Quente (São Miguel), de onde é natural o músico Rafael Carvalho, por ocasião das Festas de São Paulo.

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