Bjergfelt, o paraciclista que é o veterano da 82.ª edição
Volta
12 de ago. de 2021, 09:42
— Lusa/AO Online
Em
setembro de 2015, a vida do ciclista mais velho da 82.ª Volta a
Portugal mudou radicalmente: enquanto descia uma colina perto da sua
casa de Mendips, na Grã-Bretanha, a alta velocidade, foi abalroado por
um carro. O impacto do acidente foi tal que os médicos tiveram de
reconstruir-lhe a parte inferior da perna direita com titânio,
recorrendo ainda a um excerto muscular.“Quando
sofri o acidente, disseram-me que nunca mais poderia andar de
bicicleta, e que, provavelmente, poderia não voltar a caminhar. E eu
queria demonstrar às pessoas que quando traças um objetivo na tua
cabeça, podes alcançar coisas maravilhosas”, confessou à agência Lusa.E
conseguiu-o: compete na categoria C5, na qual, entre outros feitos,
conquistou a prata em scratch nos Mundiais de paraciclismo de pista em
2019, é financiado pela UK Sports, a agência governamental responsável
pelos atletas olímpicos e paralímpicos britânicos, o que lhe permite
“ter um salário constante”, e ainda trabalha em ‘part-time’ na GKN
Aerospace, onde está há 21 anos. Em
estreia na Volta a Portugal, o ciclista de 42 anos reconheceu à Lusa
que a participação na prova “tem sido uma experiência de aprendizagem”. “O
nível aqui é muito elevado. Esta é a nossa primeira grande corrida da
época, estamos a usá-la como preparação para a Volta à Grã-Bretanha. É
uma corrida incrível para participar. Sabia ao que vinha, porque tive
amigos que correram aqui antes. É lendária, tem a alcunha de ‘a quarta
grande Volta’ por algum motivo. Sabíamos o que nos esperava e tem sido
uma experiência para absorver e desfrutar”, revelou.Bjergfelt
esteve há menos de dois meses em Portugal, a participar nos Mundiais de
Paraciclismo, que decorreram em Cascais, uma experiência que descreveu
como “muito agradável”.“Estava
a regressar de lesão – parti a perna em abril – e foi bom poder apenas
ganhar ritmo, sabendo que não estava bem o suficiente para garantir um
lugar em Tóquio2020. Estou a fazer isto [a Volta] em vez de ir aos
Paralímpicos [Tóquio2020] e participar na Volta à Grã-Bretanha estava no
topo da minha lista”, vincou.Acostumado
a contrariar o destino, o ciclista da SwiftCarbon já decidiu que, tendo
falhado os Jogos Paralímpicos Tóquio2020, vai continuar até Paris2024.“Esse
é o próximo objetivo. E sempre sonhei correr a Volta à Grã-Bretanha, e,
com sorte, após tantos anos a sonhar, vai mesmo acontecer. E também
quero passar alguma experiência aos miúdos [da equipa]. Na quinta etapa
[da Volta], houve um momento em que percebi que a fuga iria formar-se e
disse no rádio ao Alex [Peters] ‘é este o momento em que tens de sair’ e
ele foi. Ouviu-me e foi perfeito”, contou.
Poder “transmitir esse ‘feeling’, essa perceção de que algo pode
acontecer aos mais jovens e ajudá-los e incentivá-los durante a corrida”
tem um grande significado para Bjergfelt, que encontra aí a motivação
para continuar o seu percurso no pelotão profissional, onde chegou pela
mão da SwiftCarbon em 2019.“Adoro
ciclismo, é um desporto tão incrível. Eu era um adolescente com algum
excesso de peso, descobri o BTT e apaixonei-me. Nessa altura, também
andava na escola com um amigo que era ciclista profissional de estrada.
Competimos na Taça do Mundo de XCO durante vários anos. É um desporto
fantástico. A camaradagem entre os ciclistas, os diretores desportivos, e
todos no mundo do ciclismo é incrível”, salientou.O
veterano da formação britânica vai partir hoje para a sétima etapa da
82.ª Volta a Portugal, uma ligação de 193,2 quilómetros entre Felgueiras
e Bragança, na 81.º posição da geral, a mais de uma hora do camisola
amarela, o espanhol Alejandro Marque (Atum General-Tavira-Maria Nova
Hotel).