Açoriano Oriental
As férias fora de Portugal dos novos emigrantes

O verão em Portugal é sinónimo do regresso dos emigrantes portugueses para passarem ferias com a família, mas essa regra está a mudar e os mais novos, de segunda ou primeira geração, preferem outros locais que não as aldeias onde têm raízes.

As férias fora de Portugal dos novos emigrantes

Autor: Lusa/Ao online

Outras terras, outros destinos seduzem os mais novos, sejam filhos de emigrantes ou gente mais jovem que partiu de Portugal há poucos anos.

Recém-chegado da Grécia, Pedro Faria mostra no calendário a semana que reservou para ir a Portugal. “Este ano vai ser em agosto, mas nem sempre é assim, aproveito sempre os momentos em que há voos mais baratos”, conta o fafense a viver em Berlim há quase quatro anos.

Vai a Portugal “quando dá mais jeito” para “estar com a família e com os amigos”, mas Pedro, que trabalha na área de marketing digital numa startup, diz que não sente falta de mais nada além das pessoas: “tudo o que preciso tenho aqui na Alemanha”.

Maria do Céu da Silva começou a trabalhar com 14 anos, numa fábrica de fiação em Mortágua. Chegou ao Luxemburgo em 1971, com 17 anos, e foi logo “trabalhar nas limpezas”, em casa de luxemburgueses.

Apesar de já ter ido com os filhos a sítios exóticos, o destino mais habitual é o país de origem. Em Portugal, fica "quase sempre em Mortágua" e admite que não são bem férias.

"É limpar a casa de alto a baixo, e este ano ainda fui pagar para me limparem as matas e um eucaliptal que lá tenho. A gente fica sem nada e ainda tem de pagar", lamentou, explicando que, só para lhe cortarem um eucalipto entre postes de eletricidade, teve de desembolsar 300 euros.

Uma das filhas, Dominique da Silva, é a única mulher atrás das câmaras no Luxemburgo, e já filmou as férias dos emigrantes portugueses para uma série televisiva, acompanhando a viagem de oito portugueses, da partida do Luxemburgo até aos seus destinos: Amares, no distrito de Braga, Favaios, no concelho de Alijó, Algarve e Mortágua, a terra natal de muitos imigrantes no Grão-Ducado.

O título da série documental, “Lá em baixo - Aqui em casa: um Verão em Portugal”, evocava a vida dupla da primeira geração de imigrantes portugueses e a ligação que os seus filhos ainda mantêm com Portugal.

Hoje, Dominique continua a ir a Portugal todos os anos "para ver a família e os amigos", mas "férias, férias", é noutros países. "Só me sinto mesmo de férias quando mudo de cultura e vou para um sítio completamente diferente. Portugal já conheço, e não saio da minha zona de conforto", explicou a repórter de imagem, de 30 anos.

Augusto Nunes é natural de Pinhão, norte de Portugal, 55 anos, há 31 no Reino Unido: “Vou hoje para Portugal, para a zona de Mangualde, de onde tem raízes a mulher (Graça Nunes), mas também tenciono ir uns dias ao Douro ver família e amigos”.

António Costa, vendedor, natural de Lisboa, 41 anos, há 14 anos no Reino Unido. “Vou em agosto a Portugal porque é quando a família e amigos também tiram férias. Vou uma semana para o Alentejo, para a casa de família, e depois vou uma semana para o Algarve com um amigo que também tem filhos”.

A tradição, para António Costa, é o conforto do regresso à terra. “Gosto de estar com a família porque é uma oportunidade para a minha filha conviver com os primos, e depois gosto de me encontrar com amigos que não vejo há mais tempo para fazer umas férias porreiras”, diz.

Em Paris, os preparativos para as férias de Abílio e João, 75 e 33 anos, fazem-se nas calmas, já que um decidiu partir só em setembro e o outro nem sabe onde vai passar a primeira semana porque é a surpresa para a sua despedida de solteiro.

O calendário da Alta-Costura de Paris dita que as férias são em agosto e para João Paulo Rodrigues, alfaiate na marca de ‘Haute Couture’ Cifonelli, em Paris, a pausa estival do seu “querido mês de agosto” vai dividir-se entre a semana com os amigos num destino desconhecido, a semana com a família na terra natal de Avanca e a semana com a namorada e amigos na região da Apúlia, no sul de Itália.

“Há que partilhar as férias. Eu sou um bocadinho tradicionalista e se tivesse de ficar sempre no mesmo sítio não me importava, mas a minha noiva gosta muito de viajar e conhecer outros sítios e normalmente vamos para sítios onde temos amigos também”, contou o jovem.

Já o reformado Abílio Laceiras é que não tem “temperamento para ficar de papo para o ar na praia” e vai aproveitar as duas semanas de férias na sua terra, no Fundão.

“Nas férias, gosto de repartir o tempo: ver coisas e falar com as pessoas com quem há muito tempo não falo. E, claro, aproveitar para relembrar os paladares e gostos da infância, fazendo honras à gastronomia local. Matar saudades da comida, das paisagens porque à medida que vou envelhecendo, as paisagens da minha terra marcam mais a mente. Dá a impressão que são as raízes a chamar, está a ver?”, pergunta retoricamente.


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