“Uma alegria muito grande e um entusiasmo muito grande. Ontem (sábado) à noite, nas ruas do Cairo, havia festa em cada esquina, gente a celebrar, com muitas bandeiras do Egito, e a gritar +Liberdade, Liberdade+”, contou este membro da Juventude Comunista Portuguesa, contactado telefonicamente para o Cairo.
Segundo explicou, nota-se também nos egípcios “uma forte esperança no futuro”, “um sentimento de uma alteração profunda” que ocorreu no país e que vai levar a um desenvolvimento com consequências positivas nas condições de vida da população.
Questionado acerca da opinião dos egípcios com quem tem falado sobre o conselho militar que atualmente dirige o Egito, Tiago Vieira disse que “há alguma confiança” porque os egípcios sentem hoje que podem controlar o rumo dos acontecimentos.
“Sinto que há alguma confiança neste órgão, apesar de ele não ter sido propriamente eleito. Mas acho que tem muito a ver com o facto de as pessoas hoje sentirem, se calhar como nunca sentiram na sua vida antes, que se este órgão não corresponder às suas expetativas têm o poder de voltar à rua e voltar a alterar as coisas para o rumo que entendem”, disse.
Acima de tudo, disse, “as pessoas têm a confiança de que muito em breve vão ter eleições livres e democráticas” e dos atuais dirigentes querem apenas que criem as condições para a realização dessas eleições.
Exemplo desse sentimento de poder, considerou, são as várias concentrações que pôde observar hoje na capital egípcia, concentrações de trabalhadores junto às empresas que os empregam, para exigir o aumento dos salários.
“Isto é um sinal de que, depois de a praça Tahrir fazer cair o Mubarak, as pessoas não ficaram em casa à espera e estão na rua a fazer as suas reivindicações, a exigirem aquilo que de imediato querem”, disse.
Tiago Vieira referiu ainda ter constatado com satisfação que muita gente lhe faz perguntas sobre o 25 de Abril, mostrando curiosidade e interesse em saber como foi o processo de democratização em Portugal.
“Há uma grande curiosidade sobre como foi o processo da democracia portuguesa, uma certa inspiração até, não tanto na revolução em si, mas o processo da própria constituição”, disse.
Tiago Vieira, membro da Comissão Política e do Secretariado da Direcção Nacional da JCP, está desde sábado e até terça-feira no Cairo em representação desta organização para encontros com jovens egípcios e alguns dos dirigentes dos protestos que levaram à renúncia do presidente Hosni Mubarak.
