Autor: Lusa / AO online
A grande maioria dos entrevistados pela Lusa, entretanto, não pensa em voltar a Portugal, porque possui emprego fixo, uma boa condição de vida ou estabilidade no Brasil, e o país natal ainda não recuperou dos efeitos da crise económica.
"Uma realidade com inflação oficial de 7%, e real superior a 10%, é algo que nunca experimentei em Portugal. Facilmente os preços de vários produtos, nomeadamente os alimentares, podem subir de uma semana para a outra", afirmou o gerente de vendas Júlio César Quintela, 35 anos, de Vila Nova de Gaia.
Quintela, que vive há dois anos em São Paulo, afirmou também que a desvalorização do real face ao euro e ao dólar atrapalha a constituição de uma poupança para o regresso a Portugal.
O empresário Pedro Miguel da Silva Aparício, 35 anos, é do Porto e atualmente possui uma escola de idiomas na cidade de Vinhedo, no interior de São Paulo. Migrou para o Brasil há pouco mais de três anos, e, atualmente, viu os seus gastos mensais aumentarem entre 20% e 25%.
"A população brasileira vive muito do crédito para consumir, e o mercado recuou (...). Quem quer estudar inglês e melhorar o seu currículo para ter melhores oportunidades, adia esse desejo por não ter condições financeiras", disse.
A empresária Ana Paula Sodré Costa Real, 53 anos, que vive há 14 anos no Brasil, na cidade de Campinas, interior de São Paulo, disse que gastos com a mulher a dias, refeições fora de casa e viagens longas foram cortados, e que passou a procurar ofertas em supermercados e a economizar.
"Tenho um pequeno comércio de roupas e diariamente tenho visto pequenos comerciantes como eu fecharem as portas", contou.
Outros portugueses, entretanto, afirmaram que a atual situação do Brasil não atrapalha os seus negócios.
"Viver no Brasil é uma paixão, porque, com todas as dificuldades, temos trabalho. Em Portugal não se consegue fazer nada na minha idade e com pouco capital", afirmou o empresário Fernando Lopes Subtil, 67 anos, que mora em Fortaleza.
O agente imobiliário Jorge Grumete, 29 anos, afirmou que os clientes estrangeiros e brasileiros que arrendam imóveis de luxo em Mata de São João, na Baía, continuam a fechar negócios, mas criticou a subida dos preços de bens de consumo, da energia e do combustível.
Também focado na área imobiliária, o economista José Macedo, 45 anos, realçou que a situação económica até ajuda o seu trabalho, pois incentiva o investimento em imóveis, considerado mais seguro em tempos de incertezas.
O professor universitário Manuel Portugal Ferreira, 44 anos e natural de Coimbra, realçou que, na sua área, é vantajoso viver no Brasil.
"Ainda ganhamos o dobro do que se ganha em Portugal. Há condições para ir a conferências, e uma atividade científica mais vibrante", concluiu o docente, que leciona para alunos de pós-graduação.