Autor: Rui Jorge Cabral
O açoriano António Castelo Branco vai ser este ano o mecânico-chefe do
carro do piloto boliviano Marco Bulacia na disputa do WRC2, a segunda
categoria mais importante do Campeonato Mundial de Ralis (WRC).
Marco
Bulacia, com apenas 21 anos, é uma das grandes esperanças do WRC e
corre este ano com o Skoda Fabia Rally2 evo preparado pela Toksport WRT,
uma equipa de origem turca, mas que tem a sua base de trabalho na
Alemanha.
António Castelo Branco, de 46 anos e natural de Angra do
Heroísmo, começou a trabalhar com a equipa Toksport no ano passado
através das corridas de circuito, assistindo um Mercedes na categoria
GT3, mas foi quando integrou a equipa de assistência do piloto
norueguês, Andreas Mikkelsen, no Rally da Hungria, prova em que este se
sagrou Campeão Europeu de Ralis, que a equipa viu nele a pessoa ideal
para saltar das pistas para os ralis e chefiar uma equipa de mecânicos
de um dos seus carros este ano.
Em declarações ao Açoriano Oriental
a partir da Alemanha, onde tem a sua base de trabalho e mesmo antes de
partir para a região de Gap, nos Alpes franceses, para a disputa do
Rallye de Monte Carlo, primeira prova do WRC que vai para a estrada
entre 20 e 23 de janeiro, António Castelo Branco afirma que ao nível do
WRC “é a primeira vez que me dão esta responsabilidade”, considerando
que este é o “culminar de vários anos a fazer parte de várias equipas e
como o ano passado foi muito produtivo em termos de corridas, a equipa
Toksport reconheceu o meu trabalho, a minha persistência e o meu empenho
e deram-me esta oportunidade de gerir uma equipa feita por mim, com
pessoas com quem nunca tinha trabalhado e vai ser uma aprendizagem a
partir do zero”.
Na sua equipa estão outros mecânicos portugueses e
uma mecânica espanhola. O trabalho do mecânico-chefe de um carro,
conforme explica António Castelo Branco, é o de estar sempre em contacto
direto com o engenheiro (que neste caso também é português) e o piloto,
recebendo toda a informação sobre o que é preciso fazer no carro a cada
paragem na assistência e coordenando o trabalho dos restantes
mecânicos, havendo sempre “uma quinta pessoa que estará presente para
nos auxiliar à última hora, se for necessário”.
E mesmo sendo
mecânico -chefe, António Castelo Branco, não deixa de trabalhar num dos
cantos do carro, neste caso na roda da frente esquerda “para poder estar
mais próximo do piloto e fazer a melhor gestão do trabalho de cada
mecânico”.
Durante um rali, em cada paragem no parque de assistência, mudam-se normalmente apenas as peças que tenham tido algum impacto derivado de um acidente ou de um excesso do piloto ou algum desgaste durante os troços, sendo no final de cada dia que se faz uma revisão mais profunda e onde, aí sim, “mudamos os componentes do carro que achamos que não irão aguentar mais uma etapa”, explica António Castelo Branco.
O mecânico açoriano lembra também que “toda a preparação” dos trabalhos a efetuar no carro de Marco Bulacia “será gerida por mim e terei de ter sempre a minha equipa preparada para responder ao que vai acontecendo”.
António Castelo Branco já conhecia
Marco Bulacia dos tempos em que começou a disputar provas do WRC com
equipa espanhola RaceSeven, acompanhando essencialmente o piloto polaco e
ex-campeão europeu, Kajetan Kajetanowicz, na disputa do WRC3. Sobre o
piloto boliviano de cujo carro será o mecânico responsável na corrida ao
título do WRC2, António Castelo Branco salienta que “em 2021 ele foi o
piloto-revelação do WRC2, sendo por isso um piloto novo, com bastante
ambição e capacidade de evolução”, embora tenha uma natureza reservada
no relacionamento pessoal sendo “uma pessoa que fala pouco, mas tem uma
personalidade muito boa”. Por isso, António Castelo Branco espera uma
época de sucesso em 2022, rumo ao título do WRC2, que seria também mais
um marco na carreira deste mecânico açoriano.
Depois do Rallye de
Monte Carlo, António Castelo Branco irá fazer sensivelmente metade da
temporada do WRC, quer na Europa, quer fora da Europa, podendo
estrear-se no mítico Rally Safari, no Quénia, que regressou ao Mundial
de Ralis no ano passado.
Sobre a sua carreira de sucesso como
mecânico nos ralis internacionais, António Castelo Branco reconhece que
“sempre ambicionei coisas diferentes e sempre me deu uma força extra ser
açoriano e tentar estar em projetos totalmente fora do nosso conforto e
estilo de vida dos Açores”. Sendo o açoriano que mais longe chegou e
que mais tempo tem passado no WRC, António Castelo Branco gostaria de
‘puxar’ outros açorianos para este meio. “Esta tem sido uma das minhas
grandes ambições”, afirma António Castelo Branco.
Contudo, esta não é
uma vida fácil, apesar de bem remunerada. No WRC, António Castelo
Branco ganha o triplo do que ganharia como mecânico de ralis nos Açores,
mas tudo tem um preço e, neste caso, são os mais de oito meses que se
passam fora de casa durante o ano, a preparar e a acompanhar ralis em
todo o mundo.
Por isso, conclui António Castelo Branco, “acho que o
que pesa mais neste tipo de trabalho é a ausência e a distância da
família e muitas das pessoas que eu já contactei nos Açores não têm
disponibilidade, além de sermos freelancers, ou seja, hoje podemos estar
aqui e noutro ano noutra equipa... Não temos um trabalho certo, mas
continuo a ter vontade de ter mecânicos açorianos a trabalhar comigo”.