A Região deveria adquirir um conjunto de entre cinco a dez estações sísmicas submarinas (conhecidas pela sigla inglesa OBS), num investimento que poderia rondar os 300 mil euros e que seriam colocadas no fundo do mar durante a ocorrência de crises sísmicas, ajudando os cientistas a fazer uma definição mais correta dos locais dos sismos.
Quem o diz é o presidente da direção do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), Rui Marques, que em declarações ao Açoriano Oriental afirma que “tendo o CIVISA a responsabilidade de fazer a monitorização sismovulcânica dos Açores, seria importante existirem estações sísmicas submarinas permanentemente na Região para que, em situações de crise sísmica, pudessem ser rapidamente colocadas através de um navio em redor das zonas de interesse, para que mais rapidamente pudéssemos ter dados relevantes para a análise destas crises sísmicas”.
Refira-se a este propósito que as estações sísmicas submarinas que o Estado e outras entidades portuguesas possuem estão neste momento todas fundeadas e a recolher dados, pelo que as estações submarinas que foram recentemente colocadas ao redor da ilha de São Jorge vieram por empréstimo do Reino Unido, graças a um financiamento angariado com o apoio de três universidades britânicas.
E embora estas estações sísmicas submarinas não permitam a recolha de dados em tempo real, podendo apenas os cientistas analisá-los ao fim de alguns meses, elas são muito importantes no caso dos Açores, por serem um arquipélago com forte atividade sísmica e com um território emerso relativamente pequeno para se poder fazer uma apurada monitorização sísmica apenas com o recurso a estações em terra. Por isso, quando acontecem crises sísmicas, a utilização de estações submarinas é essencial para, no médio prazo, se cruzarem dados das estações terrestres com as submarinas e, desta forma, se fazer uma localização mais exata dos epicentros (local onde o sismo se projeta à superfície) e hipocentros (local de origem do sismo no interior da crosta terrestre).
Conforme explica Rui Marques, “na ilha de São Jorge, nós acabamos por ter uma margem de erro grande nas localizações epicentrais e hipocentrais da sismicidade, face à ausência de território emerso, que nos permita fazer um constrangimento melhor da geometria da rede sísmica em terra. Por isso, as estações sísmicas submarinas são de grande importância porque nos permitem não estar condicionados ao território emerso e obtermos uma geometria de rede muito mais próxima do ideal, minimizando o erro na localização e melhorando a resolução da localização tridimensional da sismicidade”.
Recorde-se que no passado fim de semana, foram colocadas em redor da ilha de São Jorge seis estações sísmicas submarinas, com o auxílio de um navio da Marinha Portuguesa, tendo quatro estações sido colocadas do lado norte da ilha e as restantes duas no lado sul de São Jorge.
As estações sísmicas submarinas são do ponto de vista dos equipamentos, idênticas às estações terrestres, contendo um sismómetro e um digitalizador, diferenciando-se apenas por estarem envoltas numa estrutura protetora da água e da pressão oceânica.
As estações submarinas têm ainda uma poita, um peso de cerca de 100 quilos, que lhes serve de âncora e fixa-as no fundo do mar. Assim, quando o navio chega à posição predefinida para a colocação das estações, estas são colocadas à superfície do mar com o auxílio de um guincho e são largadas, submergindo rapidamente, auxiliadas com o peso da poita.
As estações sísmicas submarinas colocadas em redor de São Jorge têm uma bateria com um tempo de vida de quatro meses, durante os quais serão registados dados. No próximo mês de janeiro, serão recolhidas e os seus dados posteriormente analisados.
Refira-se ainda que a forma como a estação é recolhida do fundo do mar é curiosa: o navio que a vai recolher emite um sinal acústico que é reconhecido pela estação, acionando um mecanismo que a liberta da poita, regressando à superfície, onde é de novo recolhida por um guincho.
