Açoriano Oriental
Aceleração da subida do nível das águas analisado em encontro de cientistas nos Açores

A aceleração da subida do nível das águas foi “a descoberta central” em análise no simpósio “25 anos de progresso na Altimetria de Radar”, realizado na semana passada em Ponta Delgada, segundo o oceanógrafo Jérôme Benveniste.

Aceleração da subida do nível das águas analisado em encontro de cientistas nos Açores

Autor: Lusa/Ao online

O conselheiro sénior da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) referiu, em declarações à Lusa, que o simpósio juntou 500 cientistas de 31 países, entre 24 e 29 de setembro, no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada.

“O nível do mar está a subir. Sabemo-lo porque temos 25 anos de dados para analisar. O nível das águas do mar está a subir 3,1 ou 3,2 milímetros por ano, em média, durante estes 25 anos”, afirmou

“Se se olhar para apenas os últimos cinco anos da curva, vemos que não está a subir 3,1 milímetros em média, está a subir quase cinco. Há, portanto, uma aceleração, que temos que continuar a monitorizar, porque vai mudar a ideia das projeções que fazemos do nível de subida da água do mar para, digamos, 2100”, acrescentou.

Mas, como as descobertas científicas alcançadas dependem dos meios tecnológicos, o foco do programa científico foi a avaliação do progresso feito nestes 25 anos de recolha de dados com a altimetria de radares: “Este simpósio olhou para o que foi feito no passado – nos passados 10 anos, 15 anos, até 25 anos, quando foi fundada a altimetria.”

O objetivo foi “pensar calmamente”- uma ideia fundamental para o cientista e organizador do evento, que destacou que o encontro “não é sobre os últimos resultados”, mas sobre como é que se chegou “até aqui a fazer que tipo de investigação, que tipo de algoritmos foram desenvolvidos e que tipo de precisão” é possível obter hoje em dia e que não se obtinha há 10, 15 ou 25 anos.

Da reflexão resultará o estabelecimento de metas para o futuro, a fixar num documento final da comunidade científica, com sumários e recomendações.

“Ao olharmos para trás, sobre um grande espetro temporal, e vermos a trajetória da investigação que fizemos, também somos capazes de ver onde queremos estar em cinco ou dez anos e avaliar quais são as questões científicas a que ainda não respondemos. E quais são os requisitos das missões, para respondermos a essas questões científicas: que tipo de missões, que tipo de medições as missões de satélites devem fazer no futuro e, também, sobre como nos organizamos para fazermos esta investigação em conjunto”, destacou o investigador.

Do programa do simpósio fez também parte uma palestra aberta ao público em geral, para que a ciência produzida possa ser conhecida pela população.

Jérôme Benveniste considera que a realização de palestras dirigidas à comunidade local é extremamente importante e quando organizou o simpósio insistiu com o Governo dos Açores para que este momento aberto ao público.

“Era importante que os cidadãos de Ponta Delgada vissem que estava a acontecer esta coisa grande no Teatro Micaelense e é bom que comuniquemos às pessoas da ilha o que estamos a fazer”, disse.

Uma das apresentações foi sobre um dos parâmetros obtidos pela altimetria de radar, que é o da velocidade do vento e da altura das ondas.

A altura das ondas, explicou, é particularmente importante para os Açores, tendo em conta a ajuda que as ilhas deram à Europa na previsão das ondas – já há 100 anos, o sistema de depressão/as tempestades passavam pelos Açores e a informação era enviada para a Europa, onde conseguiam antecipadamente informar os portos de que no dia seguinte chegariam grandes ondas.

“Houve um famoso trabalho científico, em 1918, escrito por um oficial da Marinha francesa, que explicava como se podia fazer melhores previsões, graças à informação transmitida pelos Açores. Estávamos no meio da guerra e era útil para que os militares soubessem como ia estar o campo de batalha e sabê-lo antecipadamente. Portanto, graças aos Açores, conseguiam prever as condições do campo de batalha, isto, é do mar.”

A palestra sobre oceanografia, intitulada “O oceano visto do espaço”, pôs cientistas portugueses a explicarem ao público o que é a subida do nível das águas, o que os cientistas estão a fazer com os satélites para monitorizar o oceano, em termos de temperatura, de cor (devido aos plânctones e fitoplânctones), de salinidade, mudanças de salinidade”.


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