Autor: Miguel Bettencourt Mota
Onde e quando vão tocar no Tremor?
Bem...Nós somos banda-surpresa, portanto, tenho 'ordens' para não dizer onde e quando será o concerto [risos]...
...E agrada-vos a ideia de serem uma parte surpresa do festival? De as pessoas terem de arriscar para encontrarem '10 000 Russos' pela ilha?É assim: nunca nos aconteceu antes! O conceito é engraçado e vai ser diferente para nós, pelo menos. Eu sei que o sítio é bonito...É a única coisa que posso dizer [risos]!
Mas quando vocês subirem a palco –
esteja ele onde estiver colocado - com o que é que as pessoas vão
poder contar?
Nós, no último ano, andamos a promover o nosso último álbum 'Distress, Distress'. Desde o ano passado até agora demos cerca de 120 concertos, em duas digressões europeias. Do concerto [em São Miguel], o que posso dizer é que terá cerca de uma hora sem paragens. A nossa música tem uma batida rítmica constante, quase de música eletrónica. Somos influenciados por coisas mais hipnóticas...
...A toada é mais psicadélica?
Sim, e tem mais relação com a música trance, por exemplo, do que tem com a música pop-rock. No nosso caso, é bom que não esperem músicas de três minutos...Nós não temos isso... Nem refrões, nem solos, nem coisas bonitinhas...Não é fofinho, não é indie [risos]
O que é que vocês gostam de ver no público?Nem sempre consigo ver o público devido às projeções que habitualmente usamos, mas quando consigo, vejo as pessoas de olhos fechados a dançar. Isso é bom! É, mais ou menos, esse o nosso objetivo...Que as pessoas se deixem levar.
'Distress, Distress' é o que vão propor ao Tremor, ou também trazem algo de novo na bagagem?
Na verdade, o Tremor vai ser o penúltimo sítio onde vamos apresentar o disco (o último será em Bordéus). Por norma, a vida normal de um disco tem um ano e a promoção do nosso álbum termina em abril, só depois será tempo de passarmos a algo novo.
Tocar nos Açores é fazer apenas mais um 'check' na agenda, ou será de alguma forma especial?Não, nem nunca pensamos assim em relação ao sítio onde tocamos. Para nós, é sempre uma honra podermos tocar em locais onde nunca actuámos e depois descobrirmos que as pessoas nos conhecem, o que, às vezes, é até algo de surreal - pensar que as pessoas nos conhecem na Polónia, por exemplo, é estranho, mas acontece. No caso dos Açores, o que é interessante é que nunca nenhum de nós os visitou...Por isso, estamos ansiosos por tocar aí e temos estado a falar nisso. Sobretudo, o Pedro, guitarrista, que é ilhéu, mas nascido e criado na Madeira.
O que têm desenhado em termos de futuro para os 10 000 Russos? Algum novo trabalho na calha?Sim, nós na última digressão fizemos um trabalho com uma banda holandesa - uns amigos de Eindhoven, que são os Radar men from the moon – e gravámos uma 'jam' em que praticamente se juntam as duas bandas. A Fuzz Club, a nossa editora, está a pensar em lançá-la e, portanto, é provável que, ainda este ano, saia o disco. Pode ser interessante...É, pelo menos, a primeira vez que me lembro de uma banda portuguesa gravar com uma banda holandesa. Está a soar um pouco como as bandas sonoras de David Lynch (...).
Fizeram várias tours intensas e longas em dois anos. De que forma é que ela contribuem para o vosso processo criativo? Potenciam-no ou são mais uma contrariedade?Eu acho que numa banda – tal como em qualquer ofício – quanto mais trabalhámos, mais o resultado fica fluido. Além disso, somos capazes de nos lermos melhor uns aos outros porque estamos a tocar todos os dias juntos. Eu acho que beneficia o processo...Primeiro, porque com o passar dos dias e dos concertos a banda começa a ficar oleada (isto é como o motor de um carro). Depois, acho que beneficia futuras gravações; se ensaiássemos alguns dias por semana e tocássemos uma vez ao sábado, não iria haver grande evolução na nossa música. A tocar todos os dias, ganha-se mais experiência, chega-se a mais sítios e gente...Ganha-se o hábito de nunca queremos fazer nada repetido. A única coisa que se perde são os anos de vida [risos].