Açoriano Oriental
Agro-indústrias: Presente e Futuro
O sector agro-industrial nos Açores reveste-se de grande importância na Economia devido à sua implantação no território estender-se pela maioria das ilhas que possuem unidades de transformação de menor ou maior dimensão, permitindo-lhes desta forma gerar riqueza e emprego.
Agro-indústrias: Presente e Futuro

Autor: Jorge Alberto Serpa Rita
A Agricultura Açoriana é uma actividade indispensável no desenvolvimento regional pelo seu impacto no tecido social e também pelas consequências que tem na economia, onde o sector agro-industrial desempenha um papel fundamental no aproveitamento dos produtos agrícolas, contribuindo decisivamente para a criação de valor acrescentado.
A exigência crescente dos consumidores por produtos de maior qualidade que assegurem uma segurança alimentar adequada obrigou a que toda a estrutura da agricultura europeia seja cada vez mais rigorosa, contemplando vertentes como o bem-estar animal, a ecocondicionalidade, o ambiente ou a protecção das zonas rurais.
A economia mundial está permanentemente em evolução, provocando constantes desafios a todas as actividades e a agricultura não foge a essa situação, prevendo-se mais alterações a curto e a médio prazo, decorrentes da flutuação dos mercados, das negociações da Organização Mundial do Comércio ou da ‘health check’ da Política Agrícola Comum prevista já para 2008.
Assim, as diferentes regiões da Europa têm de procurar as produções agrícolas que melhor lhes servem, tendo sempre como principal objectivo a utilização racional dos seus recursos naturais, onde o agricultor terá de ter cada vez mais uma acção multifacetada e multifuncional na sua actividade.
Os Açores são uma das regiões com maiores taxas de utilização dos programas comunitários, aproveitando todos os meios que são postos ao seu dispor, o que é um sinal de vitalidade e de capacidade de iniciativa dos agentes económicos, designadamente dos agricultores, que embora tenham aumentado exponencialmente a competitividade das suas explorações continuam a ser os principais defensores do ambiente.
Ao longo da vigência dos fundos comunitários a Agricultura Açoriana desenvolveu-se de uma forma extraordinária, como no caso do leite, em que em 1990 a produção era de 312 milhões de litros e na campanha leiteira que agora findou a produção se cifrou em 529 milhões de litros de leite, significando um aumento de cerca de 60%.
Acompanhando este acréscimo na produção de leite ocorreram outras alterações que permitiram aumentar a produtividade do sector, como a diminuição de 7.569 explorações em 1989, para 3.636 explorações em 2005, enquanto que o número de cabeças por exploração passou de 10,3 em 1989 para 23,9 em 2005.  
Além desta evolução, o sector do leite registou melhorias significativas na sua qualidade, através da implementação de critérios cada vez mais rigorosos na análise do leite entregue nas fábricas, e embora exista sempre uma margem de progressão, o actualmente entregue nas indústrias é de boa qualidade.
Por outro lado, o aperfeiçoamento genético nas nossas manadas e a melhoria do maneio alimentar que tem acontecido nos últimos anos contribuíram também para a modernização do sector.
Assim, a matéria-prima ao dispor do sector agro-industrial melhorou significativamente nestas 2 últimas décadas, obrigando as unidades de transformação a modernizarem-se face aos desafios que tiveram de enfrentar.
O sector agro-industrial dos Açores aproveitou também os recursos financeiros dos programas comunitários, sendo aliás os principais destinatários do investimento na agricultura dos fundos europeus, o que permitiu a construção de novas unidades industriais mais competitivas.
Estas novas indústrias modernas eram uma necessidade do sector agro-industrial porque muitas delas eram obsoletas e antiquadas, pelo que o investimento efectuado foi uma necessidade inadiável que lhes permite no presente e no futuro entrarem nos mercados em condições de igualdade aos seus concorrentes.
Face a esta nova realidade, o sector agro-industrial tem condições para melhorar os seus produtos finais, já que a matéria-prima utilizada é de excelente qualidade, devendo então encontrar formas de inovar e diferenciar.
O consumidor é hoje muito exigente e prefere adquirir produtos mais nutritivos que permitam uma dieta saudável, e o leite é um produto essencial nesta nova abordagem da alimentação, pelo que as indústrias deverão potenciar algumas das suas características, como o clas, o cálcio ou outras, ao contrário da gordura, que era até há pouco tempo uma das principais componentes explorada.
O sector agro-industrial regional deve criar condições para entrar no mercado de uma forma incisiva, através de produtos geradores de mais-valias para a região, e por isso a procura de novos produtos deve ser uma realidade, em detrimento do leite em pó ou da manteiga, que foram durante muitos anos produtos finais com um elevado peso (embora pontualmente possa existir valorização deste produtos). 
No âmbito das agro-indústrias, no sector da carne os Açores encontram-se ainda numa fase precoce de desenvolvimento devido a não existirem unidades de transformação que permitam gerar mais-valias localmente.
Embora se saiba que só recentemente foram finalizadas as construções dos matadouros homologados pela União Europeia, que permitem o abate de animais conforme a legislação, continuam a faltar formas de aproveitar os excedentes da carne, que têm dificuldades de escoamento no mercado Por isso devem ser aproveitados em subprodutos atractivos.
Existe em desenvolvimento o processo da Carne dos Açores – Indicação Geográfica Protegida que deve ser uma área a explorar, designadamente nas ilhas com maior propensão para esta actividade, pelo que a sua afirmação no mercado é importante para a região.
No entanto a restante carne, que representará cerca de 90% do total, não poderá ser esquecida, pelo que a Carne dos Açores – Indicação Geográfica Protegida deverá funcionar como estimulo à venda de carne indiferenciada, porque se tal não acontecer todo o sector poderá ser posto em causa. 
No que concerne aos outros sectores da actividade agrícola, embora sejam de menor dimensão, devem ser apoiados e incentivados, porque muitas vezes a sua importância nas comunidades locais é grande, com impactos decisivos nas economias (por exemplo o ananás, a beterraba, o chá, o tabaco, etc).
Para além da existência de um sector agro-industrial forte, tem de se executar um plano de marketing, publicidade e promoção dos nossos produtos no exterior da região, em que a grande mais-valia é sem dúvida a Marca Açores.
Aguarda-se, assim, a implementação de um projecto de promoção da Marca Açores nos mercados alvo dos nossos produtos, para que daí se retirem dividendos comerciais na região.
A Agricultura continua a ter nos Açores uma importância vital, e a existência de investimento de grupos económicos nacionais e internacionais no sector do leite regional vem provar a qualidade do nosso produto.
Entendo que os ciclos económicos a que assistimos mundialmente são cada vez mais difíceis de prever no que concerne à sua duração, bem como à forma como podem surgir, onde tudo se processa rapidamente e onde as alterações dos mercados são constantes, pelo que temos de apostar nos sectores mais fiáveis, e a agricultura é claramente um deles.
O sector agrícola tem tido ao longo dos anos um crescimento assinalável devido à sua capacidade de se modernizar, já que se tem ajustado perante as diferentes conjunturas que têm surgido, quer internas quer externas. Assim, o futuro dos Açores passa necessariamente pela existência de um sector agro-industrial forte, onde as mais-valias que retira da sua actividade devem também reflectir-se nos rendimentos dos agricultores.
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