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Berta tem de 'descolar' de Ponta Delgada
A primeira derrota autárquica do PSD nos Açores deve motivar uma profunda reflexão entre os sociais-democratas.
Berta tem de 'descolar'  de Ponta Delgada

Autor: Rui Jorge Cabral

A primeira derrota autárquica do PSD nos Açores deve motivar uma profunda reflexão entre os sociais-democratas, mas a mudança não passa, pelo menos até 2012, por uma nova liderança. Berta Cabral não está em causa, mas foi pouco apreciada internamente a forma como na noite eleitoral de domingo se ‘acantonou’ na vitória em Ponta Delgada e quase não se solidarizou com os seus colegas de partido que perderam câmaras que tradicionalmente têm sido do PSD.

Sinais de falta de um ‘discurso regional’ por parte de Berta Cabral que os sociais-democratas querem ver alterados a tempo do PSD poder aspirar a ganhar as eleições de 2012, decisivas para o partido. A palavra ‘derrota’, que Berta Cabral tanto quis evitar no seu discurso de domingo, é assumida frontalmente por outras figuras do PSD, isto apesar de ser comum a análise de que os resultados autárquicos não podem ser dissociados de fenómenos locais que não são transponíveis para eleições regionais ou nacionais.

Para Duarte Freitas, ex-eurodeputado, actual deputado regional e considerado por muitos como uma das poucas ‘reservas’ de liderança que sobram ao PSD/Açores após 13 anos afastado do poder regional, domingo foi "um dia muito triste para o PSD. Tivemos uma derrota e temos de encará-la como tal", afirmou ao Açoriano Oriental. Sobre o discurso de Berta Cabral, que causou algum desconforto no seio do PSD, Duarte Freitas diz "não o ter ouvido, por estar naquele momento a acompanhar as comemorações da vitória em São Roque do Pico, onde fui candidato a presidente da Assembleia Municipal".

Questionado sobre se a liderança do PSD sai beliscada das autárquicas, Duarte Freitas diz ser "extemporâneo" qualquer cenário de saída de Berta Cabral da presidência do PSD, cujo horizonte diz ser as regionais de 2012. Já Reis Leite, um dos mais activos ‘históricos’ sociais-democratas, diz que "o PSD está numa fase difícil e precisa fazer uma reflexão sobre o seu papel no processo autonómico dos Açores. Talvez esta derrota possa facilitar essa reflexão, uma vez que o PSD tem-se ‘enquistado’ demasiado nas questões municipais, perdendo o seu ‘élan’ de partido regional". Sobre o discurso da líder do PSD/A, Reis Leite entende que "a visão geral do partido no discurso de Berta Cabral foi demasiado centrada na questão da sua liderança no município de Ponta Delgada e não foi um discurso de uma líder regional".

Reis Leite espera, por isso, que a presidente social-democrata possa ‘emendar a mão’ para fazer uma caminhada que a leve a ser uma "líder regional, que é o que precisamos no PSD". O histórico social-democrata entende, apesar de tudo, que derrotas como as do PSD nas Lajes do Pico, Velas, Santa Cruz da Graciosa, Povoação ou Vila Franca do Campo, são mais da "responsabilidade dos autarcas que perderam" do que da liderança do partido, com o "caso de Vila Franca a ser o mais linear". Reis Leite aponta ainda como um "erro" o PSD ter apoiado todas as recandidaturas autárquicas quando, no seu entender, deveria ter "escolhido criteriosamente os seus candidatos e mesmo os que já estavam nas Câmaras deveriam ter sido analisados caso a caso".

Quanto a Pedro Gomes, deputado e uma das vozes mais activas do PSD em matéria de política regional, afirma ao Açoriano Oriental que os resultados de domingo são "um fracasso da estratégia política do PSD para estas eleições e inequivocamente uma derrota". Uma derrota suficiente para se pôr em causa a liderança do PSD/Açores? "Não", garante Pedro Gomes.

Mas sobre a necessidade de Berta Cabral assumir uma maior dimensão regional enquanto líder do PSD/Açores, o deputado lembra que "ninguém ganha eleições regionais sem uma dimensão regional e há que trabalhar no sentido de se adquirir essa dimensão, sem que o cargo de presidente da Câmara de Ponta Delgada seja uma ‘handicap’ para isso". Pedro Gomes diz ainda que o PSD tem de ser "muito claro nas suas propostas e, ao nível da estratégia política regional, tem de adoptar uma conduta mais combativa e mais dialogante".

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