Açoriano Oriental
Eleições Legislativas
"Tem que haver respeito pelo resultado eleitoral"
Mota Amaral, que se recandidata a deputado à Assembleia da República, não sabe se esta é a sua última candidatura até porque, ironiza, José Sócrates aumentou a idade da reforma. Não prevê maiorias absolutas mas assume que um bom resultado para o PSD é a vitória
"Tem que haver respeito pelo resultado eleitoral"

Autor: Paulo Simões/Olímpia Granada

Quais as razões que o levam a aceitar, novamente, ser candidato pelo PSD  à Assembleia da República?

Fui eleito pela primeira vez para representar os Açores em Lisboa, vai fazer agora 40 anos! Foi antes do 25 de Abril, embora com um propósito claramente democratizador. Ao encontro de um manifesto eleitoral de então que foi apresentado e que eu espero, oportunamente, comentar pela  actualidade de muitas das suas propostas...
Mas, ao longo destes anos (cerca de vinte dos quais foram interrompidos porque eu estive no Governo Regional), tenho procurado representar os Açores com todo o empenho e muito próximo das populações. Ainda antes do 25 de Abril, quando ninguém falava disto, mantive sempre o diálogo, uma presença junto das populações - naquela altura só representava as ilhas de São Miguel e Santa Maria - todos os anos ‘corria’ todas as freguesias das duas ilhas (...).  Julgo que é um padrão que os deputados não podem de forma nenhuma esquecer!


É mais difícil estar em contacto com a população açoriana, residindo no continente?

É mais difícil, sem dúvida, mas através da Casa dos Açores procuro estar presente e dialogar com os responsáveis; evidentemente menos do que os que aqui estão... na Casa dos Açores tenho dificuldade em estar presente porque as reuniões são às sextas-feiras, dia em que viajo para regressar a casa...


Vem todas as semanas?

Praticamente.


Um homem que já foi presidente do Governo Regional dos Açores, que já esteve na Assembleia da República como figura máxima, regressar à bancada como deputado não lhe fez algum tipo de confusão?

De forma nenhuma! Eu sou deputado! Ou seja, eu sou representante do Povo. E esta minha percepção do mandato parlamentar que  vem desde esses primórdios a que aludi, mantenho-a  sempre presente. Os deputados podem ser destinados a outras tarefas, mas aquela que mais me estimula é essa representação directa. Sou representante do Povo (...) da Região Autónoma dos Açores, faço-o com imenso empenho e entusiasmo. As outras tarefas, cumpro-as com  todas as minhas energias mas também aprendi, ao longo destes anos, que é preciso estar na política e no exercício do poder subindo sem arrogância e descendo com elegância e desprendimento...


Diz que os deputados são os representantes do Povo;  a Democracia assim o preconiza, e na prática?  Ou, como se queixam  os cidadãos, esquecem-se de quem os elegeu?

Haverá alguma razão, sim admito que sim... E eu procuro ter isso sempre presente e evitar essa crítica. Admito que no caso concreto da Região Autónoma dos Açores esta presença junto dos eleitores seja mais difícil, não tanto pela repartição insular, porque hoje não há problema nenhum, há avião todos os dias ... , é por causa do ruído na comunicação que se pode introduzir com os nossos colegas deputados à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA)! Convém não ‘entrarmos’ na competência deles. Ora, a nossa Autonomia é tão ampla que a maior parte dos assuntos hoje em dia passam através da ALRAA e do Governo Regional, de modo que as tarefas que cabem aos deputados à Assembleia da República (AR) dizem respeito ao nosso relacionamento com a República, a matérias que são da competência da República (como Finanças ou Segurança).(...)


Que opinião tem sobre a polémica que envolve  Governo  e Presidente da República sobre alegadas escutas*?

É uma questão complicada,  não conheço todos os dados...


Mas acha que Cavaco Silva faz bem em manter o silêncio? Em  adiar para depois das eleições um comentário?

Há uns aspectos folhetinescos nesse assunto e portanto... Julgo que isso tem a sua razão de ser que é não interferir no processo eleitoral.


Sente-se desconfortável como social-democrata?

Acho que é desconfortável para todos que exista a suspeita de que um dos órgãos de soberania, e ainda por cima aquele que é directamente eleito pelo Povo, é policiado e espiado por outro...


Ou não...?

Ou não. Mas o simples facto de surgir essa questão e depois (...) de haver quem lhe dê credibilidade  e faça eco disso na comunicação social, à volta disso criou-se um verdadeiro folhetim, como há pouco disse...


Vamos falar um pouco de ideologias. Em que é que se distingue o programa social-democrata dos programas dos restantes partidos?

Vou falar do PSD e da marca ideológica que é a social-democracia, uma visão humanista da sociedade, personalista e a concepção de que a sociedade - e o Estado também -, existem para garantir a realização da pessoa humana e que é preciso respeitar as pessoas em toda a sua integridade e, por isso, dar-lhes a máxima margem de liberdade que esteja ao alcance de cada uma! O Estado intervém para corrigir as desigualdades a fim de colocar as pessoas em condições de igualdade de oportunidades. Mas o Estado não é dono das pessoas e essa é a diferença que nos separa das orientações situadas à esquerda do PSD! É um partido do centro, aliás como o PS, que gosta muito de falar de esquerda mas... esquerda, no sentido rigoroso da palavra, é a extrema esquerda, é o socialismo real, é a desprivatização (como agora diz o BE, que pelos vistos está preparado para se aliar ao PS...).
 Manuel Alegre  alertou para os perigos do PSD, da direita chegar ao governo...
Pois é caso para dizer que é preciso alertar para os perigos da esquerda chegar ao governo...


O que considera ser um bom resultado para o PSD, nos Açores e no País?

Ganhar as eleições, ter mais votos e deputados. Está visto que não há maiorias absolutas (...).
Em caso de vitória do PSD ou PS  com maioria relativa - caso estes partidos não se entendam -, poderá ser necessário o apoio parlamentar de outras duas forças políticas...
Há aspectos de quadratura do círculo na solução para a aprovação do Programa de Governo. Vejamos: no cenário em que nenhuma das forças políticas consegue maioria absoluta, ou pior ainda, se não consegue facilmente uma aliança para governar, nessa altura recai sobre a AR e os partidos nela representados uma grande responsabilidade, a de assegurar a governabilidade do País! Tem que haver respeito pelo resultado eleitoral (...).


Que importância tem para os Açores que o Governo da República seja suportado pelo mesmo partido que o do Governo Regional?

Eu sou muito institucional e ao longo dos anos em que fui presidente do Governo Regional dialoguei, trabalhei... com problemas...


Teve uma relação difícil com Cavaco Silva?

Tive. Isso é do conhecimento público. Aliás, a esse respeito gostava de sublinhar que as pessoas do PSD quando têm problemas no seu próprio partido não o ocultam!


Então não é  necessariamente vantajoso?

Não, não é! Até pela experiência actual e só no que respeita a matérias da República na Região: a questão da ajuda à reconstrução do Faial e Pico... Manuela Ferreira Leite que tem sido tão diabolizada pelo PS, na altura em que foi ministra das Finanças mandou para os Açores 34,5 milhões de euros e segundo ainda ontem ouvi na televisão, José Sócrates, por um período muito maior, mandou para os Açores 29 milhões... Guterres tinha mandado 32 milhões. E mais, Ferreira Leite definiu regras para o Estado cumprir (em termos de comparticipações na reconstrução (...) que Sócrates baixou, de acordo também com o que ouvi). (...)


Este é o seu último mandato?

Não lhe sei responder. Depende (...) e quero notar que José Sócrates aumentou a idade da reforma...

 


* esta entrevista foi concedida antes de noticiado o afastamento de Fernando Lima, assessor de Cavaco Silva

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