Açoriano Oriental
"Ferreira Leite e Sócrates são ditadores disfarçados"
Manuel Moniz defende que os eleitores devem avaliar a “atitude” dos candidatos na hora de escolher onde colocar a cruz. Mas, frisa, nunca em branco que é um “desrespeito pela democracia”. Moniz defende ainda a revisão do sistema eleitoral 
"Ferreira Leite e Sócrates são ditadores disfarçados"

Autor: Paulo Simões/Olímpia Granada
 Quais as razões que o levam a candidatar-se?

Acima de tudo, são duas: uma é de carácter pessoal, se eu não for eleito,desta vez, vou ter três anos sem actividade política  porque sou jornalista e, ao que parece, isto não é muito aceite pelas pessoas... embora a Constituição permita que os jornalistas tenham actividade política...
O cidadão jornalista é igual a qualquer outro cidadão...
E a Constituição garante-o! No entanto, a verdade é que, depois, na prática,  as pessoas não acham bem assim, e compreende-se... o que me criticavam é que eu só me candidatava uma vez de quatro em quatro anos (nas legislativas regionais) e eu pensei: “têm razão!” Era necessária uma actividade um pouco mais seguida e fi-lo. Mas, se eu não for eleito desta vez, são três anos durante os quais as ideias a que muitas pessoas aderem, vão desaparecer do panorama...
A segunda (razão pela qual me candidato) é a de que, realmente, é preciso alterar o figurino dos políticos regionais; peço imensa desculpa!, mas conheço centenas de pessoas que têm elevadíssima qualidade, que viveram fora, que sabem imensas coisas, altamente cultas e que fogem da política como “o diabo da cruz”! ... e isso não pode continuar assim!
Eu não me revejo em praticamente nenhum dos deputados regionais que estão na Assembleia regional, tenho muita pena! Os partidos político chegaram a um ponto - e isto é muito grave -que controlando a democracia (a democracia assim o exige, porque é uma democracia de partidos), controlam os seus partidos (aparelhos) de uma forma hermética a que os cidadãos não conseguem ‘mexer’. Quer dizer, um grupo de cidadãos que faça parte de um partido e que consiga ‘tomar de assalto’ a liderança de um partido, domina-o de tal maneira que os cidadãos não têm acesso...
Está a dizer que é uma falsa democracia aquela em que vivemos?
Completamente! Ainda esta semana encontrei na rua um professor universitário, com grandes responsabilidades, e disse-lhe: “Deixe-me oferecer-lhe um pacotinho dos meus chás”.  A televisão estava lá e ele disse: “Pá, gosto muito de ti mas para a televisão não!...” Estão com medo de quê?


Há medo nos Açores?

...Há uma auto-censura.


Porquê?

Penso que tem a ver, por um lado, com a nossa maneira de ser.
 Aliás, os jornalistas sentem isso muito; é muito difícil  hoje estarem a escrever sobre alguém de uma forma crítica, por exemplo (porque quando os jornalistas “falam mal de alguém” é porque esse alguém fez mal...), é muito complicado, porque depois vêem a pessoa na rua, a pessoa fica ‘chateada’... mas o facto é que os partidos posseram-se  a ‘jeito’.
Nós não vemos que os partidos sejam  maleáveis à crítica, quem criticar, aqui, um partido fica ‘queimado’ e, depois, é uma ‘chatice’ porque quem está no Governo controla os empregos, controla cerca de 20 mil empregos directos, e  não só: o Governo controla mais outros 20 mil, através das IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social).


Denoto um tom negativo nesse “controlar”?

Não sei se é negativo se é positivo, é assim! E as pessoas que não são parvas nos Açores, são até bem inteligentes, acima da média, percebem que o melhor é não se meterem nestas ‘coisas’!


Julgo saber que o Manuel Moniz tem uma mágoa e que é a de não existir uma razão directa entre a aceitação popular que tem quando faz campanha eo voto no dia das eleições... o que é que tem estado a falhar?

Não falha nada, não pode haver pretensões de um pequeno partido chegar, ver e vencer...


Mas é frustrante?

Evidentemente, mas eu compreendo... a ‘gente’ pode não gostar muito de uma situação mas o facto é que a votação tem vindo a aumentar. Digo na brincadeira que com as médias de crescimento, daqui a cem anos conseguirei ser eleito!
Agora, quem é que não vota? Mais de 50 por cento dos açorianos não vota, e quem são eles? São, acima de tudo, os jovens, aqueles a quem caberia fazer a tal mini-revolução. (...)
Não imagina o número de pessoas que não sabe que está recenseada! Mas o pior é que tenho encontrado cada vez mais jovens a dizerem: “Eu não voto”. (...) E é difícil ‘tirar-lhes’ essa ideia, por uma razão: eles realmente não se revêem nos políticos que lhes pedem o voto!  
Fico é magoado de, por exemplo, nas eleições regionais houve dois por cento de voto em branco, quando havia um partido alternativo como o meu! Isso já me parece ser uma pretensão! Penso que são pessoas que têm algum nível cultural  e que não estão a perceber que o ideal não é o voto em branco porque o voto em branco não vale nada! O que na realidade estão a dizer, com o voto em branco, é que despeitam a democracia! Votar é o acto nº 1 da democracia, democracia é a liberdade em sociedade e o que estão a fazer, se calhar sem saber, é ‘magoar’ a democracia. E o que lhe vai acontecer quando tivermos uma descrença grande (...) é que vai aparecer uma ditadura!


A abstenção é muito elevada nos Açores e no País, como é que se consegue ‘dar a volta’?

(...) Cada cidadão tem um voto e está votando em quê? Em duas coisas:  uma, é no chefe do governo, e outra é nos deputados, mas nós só temos um voto para essas duas coisas! Ou seja, nós não temos realmente uma democracia representativa (...). Nós temos que alterar o sistema eleitoral.
 

O que é que gostaria mais de ver debatido nesta campanha eleitoral?

O que quer que seja que seja debatido em campanha eleitoral, não vale nada! Os partidos prometem o que quiserem, dizem o que quiserem, porque estamos a falar de quatro anos, de uma legislatura em que claramente não serão três ou quatro temas debatidos em 15 dias que vão mandar (...). O que os eleitores precisam de perceber é as atitudes (...).


Então concorda com a estratégia de Manuela Ferreira Leite de não prometer ‘grandes coisas’ e de dizer que há muitas leis que são feitas e que vêm dificultar o sistema em Portugal?

Sim e não. Sem dúvida, é uma realidade há leis a mais, e no caso açoriano é ridículo que se diga que é um problema de competências, nós temos ‘montes’ de competências que não exercemos, o problema é o que fazemos com as leis que temos (...).


Está a dizer que os açorianos não têm sabido aproveitar a autonomia que têm?

Sem dúvida nenhuma(...). No entanto (quanto a Manuela Ferreira leite), um partido que se candidata tem de dizer exactamente o que é que defende nas grandes linhas. (...) Ninguém percebe exactamente nem o PS e o PSD, são uma força que depende de quem está à frente. (..)
E o que estamos a ver neste momento entre a Manuel Ferreira Leite e José Sócrates é que são dois ditadores: um disfarçado e outro que se disfarça.
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