Açoriano Oriental
Universidades criam alternativas a lacunas da Ação Social
As universidades procuram cada vez mais respostas às dificuldades dos alunos que o Estado não resolve. A Clássica reforçou o programa lançado em 2009 e o Técnico, já com um fundo de emergência, vai lançar bolsas de trabalho.
Universidades criam alternativas a lacunas da Ação Social

Autor: Lusa/AO Online

Aos 24 anos, Catarina Orcinha está a concluir o mestrado em Bioquímica. No segundo ano beneficiou do apoio da Universidade de Lisboa (UL), depois de ter perdido o direito a bolsa da ação social com a alteração dos critérios de atribuição.

Tem mais dois irmãos a estudar e a mãe estava também a fazer um doutoramento que, feitas as contas, acabou por abandonar.

“Antes tinha bolsa dos serviços sociais, No segundo ano de mestrado negaram-me esse apoio e tive de recorrer a outro”, contou à agência Lusa a estudante natural da Marinha Grande.

Conseguiu manter-se em Lisboa graças ao programa UL Consciência Social, que lhe assegurou senhas de refeição, passe social, propina mínima e subsídio de alojamento.

Entre os colegas, nota que existe uma dificuldade cada vez maior para conseguirem prosseguir os estudos: “Muitos perderam a bolsa, outros passaram de um apoio de 300 euros para menos de cem. Sei de pessoas que entraram numa universidade em Lisboa, mas como não obtiveram qualquer apoio tiveram de ir para casa a meio do curso porque não tinham dinheiro”.

Catarina, vai tentar uma bolsa para trabalhar em Portugal, mas já está preparada para ter de candidatar-se ao estrangeiro.

O programa da UL tem duas vertentes: uma de apoio direto, que fornece aos alunos as refeições, o passe, a possibilidade de propina mínima e alojamento, e outra de colaboração institucional, mediante a qual os alunos recebem um valor por trabalhos que realizam.

Foi assim que a universidade celebrou um protocolo com a Assembleia da República, através do qual parte do trabalho de gravação e transcrição das sessões é assegurado por universitários.

A UL dispõe de 130.000 euros para apoios diretos este ano letivo e apela às empresas para aderirem, de forma a transformar “a gota de água” em algo maior. O valor provém de receitas próprias e mecenas.

“Gostaríamos de ter o apoio de antigos alunos e outras entidades”, disse à Lusa a pró-reitora, Luísa Cerdeira.

No ano passado, foi possível apoiar 160 alunos com apoios extraordinários diretos, sem contar com as chamadas bolsas de mérito social, para pequenos trabalhos, organização de congressos, ajuda na cantina ou acompanhamento de grupos em museus.

O Instituto Superior Técnico, da Universidade Técnica de Lisboa, tem há dois anos e meio um Fundo de Emergência Social, com uma provisão de 20.000 euros, e prepara nova iniciativa.

“Havia necessidade de mecanismos de apoio a situações às vezes inesperadas, não cobertas pelos serviços de Ação Social”, explicou à Lusa Rogério Colaço, da direção.

O Técnico quase perdeu um aluno de excelência (média de 19) porque os pais ficaram desempregados. A situação foi fácil de identificar por se tratar de um aluno muito regular.

A escola tomou a iniciativa de o contactar e perceber por que não tinha feito a inscrição, mas muitas vezes torna-se difícil apurar as verdadeiras razões: “Há um fator que mascara muito os dados, que é a vergonha”, indicou.

O fundo do Técnico já apoiou mais de 20 alunos.

Em outubro, sairá o regulamento de um novo fundo que consiste na realização de pequenas tarefas com retorno para a instituição. Os alunos que dele queiram beneficiar podem ajudar na biblioteca e no apoio aos estudantes mais novos.

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