Autor: João Rocha
Instalada
em plena Rua da Sé e antigo solar da D. Violante do Canto, a sede
lusitanista, cujo valor de mercado está hoje avaliado em cerca de
três milhões de euros, beneficiou, na altura da compra por parte do
Lusitânia, da isenção da sisa (40 contos) concedida pela Direção
Geral das Contribuições e Impostos.
Depois
de um período que a coletividade andou com a “casa às costas”,
os dirigentes lusitanistas, por volta de 1955, avançaram com a
decisão de adquirir uma sede própria.
Para
tal, foi nomeada uma comissão “Pró-sede”, formada por Rafael
Lisboa Vaz (presidente), João Vieira Valentim (tesoureiro) e Abel
Borba Medina (secretário).
Em
1958, na presidência de José Albino Fernandes, teve lugar a
transferência do internacional Mário Lino para o Sporting Clube de
Portugal, a qual rendeu 200 contos para os cofres da turma
terceirense.
A
escritura da venda realiza-se a 30 de Agosto de 1962, já na
presidência de Werter Dias.
Em
1968 foi nomeada uma nova comissão sede com a incumbência de
satisfazer o integral pagamento do imóvel, que culminou em 1973.
As
receitas financeiras de iniciativas tão díspares como bailes,
bingos, jantares, animações de esplanada e concorridos jogos de
futebol foram fundamentais para atingir o desiderato, a que se juntou
a criação de cabeças de gado por parte de 55 lavradores da ilha,
numa campanha dinamizada por André Lourenço Ferreira.
O
velho sonho lusitanista foi concretizado, contando com o apoio de
toda a ilha.
A
verba serviu de mote para a aquisição de uma sede na Rua dos Minhas
Terras, mas, pouco depois do início da obra, nasce a oportunidade de
adquirir a atual sede, sendo o clube então presidido por Francisco
Alberto dos Santos.
Aristocrata açoriana
A sede do Lusitânia é a casa
histórica onde nasceu e viveu Dona Violante do Canto, reconhecida
aristocrata açoriana.
Violante do Canto (1556/1599), no contexto daa crise de sucessão de 1580 distinguiu-se entre os principais apoiantes de António I de Portugal na luta contra Filipe II de Espanha.
Recorrendo à sua grande fortuna e prestígio social, financiou o partido Antonino em Angra, proporcionando-lhe os recursos e a credibilidade necessários para o manter dominante na fase mais adversa da resistência angrense à união com a Espanha.
A aura de romantismo e nacionalismo de que a sua figura foi cercada, nomeadamente pelas obras de divulgação historiográfica de Gervásio Lima, transformaram-na em uma das personagens de referência da história insular, personificando a heroína patriota e desinteressada que tudo sacrifica pela independência nacional.
A imagem mítica de Violante do Canto foi fortemente explorada pela propaganda do Estado Novo, projetando-a como símbolo do portuguesismo açoriano.