Açoriano Oriental
Trinta anos depois de Pintasilgo há duas mulheres no boletim de voto das Presidenciais
As presidenciais terão, pela primeira vez, duas mulheres candidatas, trinta anos depois da inédita candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo, com quem Maria de Belém trabalhou e que Marisa Matias recorda como "uma rajada de esperança".
Trinta anos depois de Pintasilgo há duas mulheres no boletim de voto das Presidenciais

Autor: Lusa / AO online

 

A única mulher que foi primeira-ministra em Portugal, liderando o V Governo Constitucional (agosto de 1979 - janeiro de 1980) foi simultaneamente a única mulher a candidatar-se à Presidência da República, em 1986.

Essa eleição foi ganha à segunda volta por Mário Soares, numa disputa renhida com Freitas do Amaral, mas é também de uma derrotada que reza essa história (Pintasilgo obteve 7,38%, segundo a Comissão Nacional de Eleições), como apontou à Lusa a candidata apoiada pelo BE, Marisa Matias.

"A história é ingrata porque conta sempre só a perspetiva dos vencedores, mas, nesse caso, Maria de Lourdes Pintasilgo ficou na história não sendo uma vencedora", afirmou Marisa Matias, que tinha na altura dez anos de idade e recorda "a mobilização que a candidatura criou, também pelo facto de ser uma mulher".

As recordações de Maria de Belém Roseira sobre Maria de Lourdes Pintasilgo são muito pessoais, já que com ela trabalhou logo no primeiro Governo provisório.

"Fui sua assessora, quer como secretária de Estado da Segurança Social quer como ministra dos Assuntos Sociais. Era uma personalidade com uma inteligência rara, uma capacidade criativa extraordinária, alguém que investiu imenso no desenvolvimento de Portugal em todos os cargos que exerceu, quer em Portugal, quer no estrangeiro, onde era estimadíssima, em todas as organizações internacionais de que foi membro e representante de Portugal, ou [como] convidada enquanto conferencista", disse Maria de Belém à Lusa, numa resposta escrita.

Marisa Matias não tinha, naturalmente, "os mesmos quadros mentais" aos dez anos de idade, mas as suas recordações da candidatura de Pintasilgo "não são indiferentes ao facto de ter uma enorme admiração pela candidata": "Era alguém que inspirava confiança, simpatia, e que foi uma rajada de esperança".

"Teve importância por várias razões, não só por ser uma mulher, mas pela mensagem da candidatura, a mensagem muito forte de pôr a democracia a funcionar, pouco mais de dez anos depois do 25 de Abril, foi muito marcante e ficou até hoje", considera.

A existência de duas candidaturas no feminino, 30 anos depois de Maria de Lourdes Pintasilgo, mais de 40 anos após a democracia que instituiu o sufrágio universal, permitindo o voto de todas as mulheres, pela primeira vez, é expressão "da afirmação lenta das mulheres no quadro político nacional, mas é uma afirmação", aponta Marisa Matias.

"Acho que não se pode ofuscar o positivo que tem pelo facto de estarmos muito atrasadas. Por algum sítio tem de se recomeçar, 30 anos depois é um recomeço e é positivo haver duas mulheres candidatas. É um sinal de maior maturidade, embora falte muito", sustenta.

Maria de Belém Roseira considera que "é um sinal dos tempos" e recorda que a revisão constitucional de 1997 introduziu, no artigo 109, "ser indispensável ao aperfeiçoamento da democracia a participação equilibrada de homens e mulheres".

"Trabalhei e tenho trabalhado sempre muito para que as mulheres tenham maior representatividade na política. Aliás, fui eu a preponente da Lei da Paridade. Uma lei da minha responsabilidade em termos de defesa no parlamento", afirma.

"Se hoje a nossa Assembleia da República tem a configuração que tem em termos de participação de mulheres a essa lei se deve. Evidentemente que já existiam mulheres na política antes dessa lei, mas o que é um facto é que, a partir desse momento em que as listas têm de ter pelo menos um terço dos géneros, entraram as mulheres em força, mulheres com muita visibilidade, pela sua competência, capacidade de trabalho, afirmação e pensamento na política", sublinha Maria de Belém.

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