Açoriano Oriental
Carlos Castro
Testemunha "esquecida" de ter descrito Seabra como "em transe"
Mónica Nascimento, testemunha que falou com Renato Seabra depois do homicídio de Carlos Castro em Nova Iorque, disse hoje que o jovem estava na altura "calmo, surpreendido e hesitante", evitando qualificá-lo como "em transe", como havia feito antes.

Autor: Lusa/AO online

Última testemunha da acusação, Mónica acorreu ao Intercontinental Hotel, onde ocorreu o homicídio do cronista social a 07 de janeiro de 2011, e encontrou o arguido a conversar com a sua mãe, Vanda Pires, que é uma das testemunhas chave do processo por ter privado com Seabra e Castro durante a estadia de ambos em Nova Iorque.

A jovem havia dito anteriormente a um psicólogo contratado pela defesa para fazer uma avaliação psiquiátrica de Seabra que, durante a conversa entre os três no "lobby" do Hotel, o jovem "começou a ficar estranho, como se estivesse em transe", recordou hoje o advogado de defesa, David Touger.

"Não me lembro de dizer isso", disse Mónica Nascimento perante os jurados, usando várias vezes a palavra "surpreendido" para descrever o estado de Seabra.

Escudando-se em relatórios psiquiátricos, a defesa quer provar que na altura do crime, o jovem "estava em pensamento delirante, num episódio maníaco e desordem bipolar com caraterísticas psicóticas graves" e, como tal, não deve ser considerado culpado.

A defesa argumenta que foi a doença mental a levar ao crime, após o qual o jovem se passeou pelas ruas da cidade num estado de alucinação, tocando nas pessoas.

A acusação sustenta que foi "raiva, desilusão e frustração" a levar Renato Seabra a matar o colunista social, diretamente ligada ao fim da relação, e, como tal, sujeito a culpabilidade legal.

Mónica Nascimento respondeu negativamente quando questionada pela defesa sobre se, durante a conversa no hotel, Seabra tentou tocar alguém ou se falou de "Deus, demónios, em melhorar o mundo".

Antes, o tribunal ouviu Avelino Lima, que juntamente com a namorada Vanda Pires, Castro e Seabra participou no último jantar entre a vítima e o homicida, a 06 de janeiro de 2011, véspera do crime, chegando já no final da refeição.

Enquanto em anteriores encontros Seabra se mostrou "calado e educado", relatou Lima, naquela noite estava "mais feliz", bebendo vinho e propondo brindes, dizendo "vamos celebrar", apesar de, depois de uma primeira discussão com Castro, haver silêncio e "tensão" à volta da mesa.

Quando Lima chega, Seabra aponta-lhe um copo de vinho, que diz "estar à espera" do convidado, e propõe de seguida vários brindes, chegando a tentar chamar a atenção de Castro com uma ligeira cotovelada, relatou.

O advogado de defesa Rubin Sinins tentou que a vítima descrevesse o estado de Seabra como "efusivo", mas este não foi além de dizer que o jovem "estava diferente".

Também hoje foi ouvido o detetive que liderou a investigação, que confirmou apenas que, na altura da detenção, a 08 de janeiro, Seabra estava na posse do passaporte, cartões de crédito, mais de 1600 dólares em notas, entre outros bens.

Estas foram as últimas testemunhas arroladas pela defesa, iniciando-se na quarta-feira a audiência das arroladas pela acusação - um psicólogo e um psiquiatra que avaliaram Seabra.

A acusação poderá ainda optar por trazer mais testemunhas ao tribunal, depois de ouvidas as da defesa.

Durante a manhã, o detetive Michael de Almeida, luso-descendente que serviu de tradutor e intérprete ao detetive Richard Tirelli durante a confissão de Seabra, confirmou em tribunal que o jovem disse ter tentado suicidar-se depois do crime, "para se salvar".

Esta declaração, contudo, não foi incluída na versão final da confissão lida em tribunal.

Também não incluída na versão final foi a declaração de que, durante o crime, o jovem "saltou várias vezes sobre a cara" da vítima, confirmou Almeida.

Na tentativa de suicídio, Seabra terá usado um copo de vinho partido para cortar os pulsos.

A procuradoria divulgou entretanto imagens do jovem no primeiro hospital a que acorreu depois do crime, Saint Lukes, que o mostram a ser empurrado por um enfermeiro numa cadeira de rodas, com ambos os pulsos ligados.

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